DESIGREJADOS, QUEM SÃO E O QUE PRETENDEM

INTRODUÇÃO

“Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima”. Hebreus 10.25 – Almeida Revista e Atualizada

Há muitos crentes fora da igreja. Eles não se consideram desviados, porém não querem compromisso com a igreja, que, dizem, está secularizada. São conhecidos como “desigrejados”. É o movimento que mais cresce no mundo atualmente. São oriundos de várias denominações, principalmente as chamadas igrejas históricas. O movimento tem características sectárias, pois rejeitam tudo que se refere à igreja. Redescobriram o evangelho puro e simples da igreja primitiva. A igreja atual desviou-se do verdadeiro evangelho, secularizou-se, paganizou-se. Os adeptos do movimento reúnem-se nas casas, pois no verdadeiro cristianismo não há templos.

A maioria é intolerante, com os crentes denominacionais. São críticos ferrenhos de todos os que permanecem nas igrejas institucionais.

1.O QUE ELES ALEGAM POR TEREM DEIXADO A IGREJA DENOMINACIONAL

1.1 – Foram maltratados pela liderança.

1.2 – Não tinham espaço na igreja

1.3 – A igreja se tornou uma mera instituição religiosa

1.4 – Há muitos escândalos na igreja

1.5 – Líderes pensam mais em si mesmos do que nas ovelhas

1.6 - Redescobriram o verdadeiro evangelho, puro e simples como na igreja primitiva

2. PRINCIPAL LÍDER DO MOVIMENTO

Seu principal líder no Brasil é o ex-pastor presbiteriano Caio Fábio d’Araújo Filho, criador da “Estação da Graça”. Principal meio de divulgação do movimento é o seu canal de TV via internet. Depois de ser afastado do ministério por prática de adultério, Caio Fábio tentou voltar, mas sem apoio criou seu próprio ministério. O movimento funciona via on line e os seus seguidores são incentivados a formar o que chama de “estação” em cada cidade. Anualmente é realizado em Brasília um congresso dos seus seguidores. Segundo suas próprias estatísticas o movimento conta com mais de 3 milhões de seguidores.

Dizem os seguidores do movimento que não se trata de uma denominação, porém seu líder pede ofertas, embora diga que não se trata de dízimo, mas precisa manter o movimento. Caio não poupa críticas ao movimento evangélico. Chega mesmo a chamar cristãos denominacionais de “idiotas” e “imbecis”. Para ele a Bíblia contém erros grotescos e não é necessário ao cristão segui-la cegamente. Jesus inaugurou um novo tempo. Seguir a Cristo é mais importante do que seguir a Bíblia.

3. LITERATURA

O livro “Cristianismo pagão” do americano Frank Viola, tornou-se uma espécie de Bíblia do movimento. Esse autor é um ex-pastor de uma igreja denominacional. Diz que enquanto pastoreava denominacionalmente compreendeu que a igreja havia se desviado do verdadeiro cristianismo. Passou a doar seu salário a instituições filantrópicas. Nesse livro ele condena tudo que se refere à igreja, desde a Escola Dominical ao sermão. Tudo está errado. Não vê nada positivo na igreja denominacional. É autodidata. Nunca frequentou seminário, por achar que é Deus que prepara o obreiro.

PRINCIPAIS PONTOS CONTESTADOS PELOS DESIGREJADOS

4.1 – A Igreja não deve reunir-se em TEMPLOS

Alegam que não há no novo testamento a referência a construção de templos como local de adoração. Pelo contrário reiteradas vezes os apóstolos referem-se à igreja reunida nas casas dos membros. Por exemplo na casa de Filemon, na casa de Lídia, etc. O próprio Jesus diz à mulher samaritana que não era em Jerusalém (no Templo) ou no monte Gerezim (onde também foi erguido um templo) o lugar da adoração. Mas o Pai estava à procura de verdadeiros adoradores em espirito e em verdade.

REFUTAÇÃO

O cenáculo local da instituição da ceia, tornou-se uma espécie de templo primitivo abrigando as primeiras reuniões cristãs. A eleição da Matias como substituto de Judas, aconteceu no cenáculo. (Atos 1.13). No dia de pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos todos estavam reunidos no cenáculo. “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar”. Atos 2:1. A expressão no mesmo lugar indica lugar de costume, ou seja, onde eles costumavam se reunir.

Os cristãos primitivos reuniam-se também no templo. “E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração”, Atos 2:46.

As reuniões só passaram a ser realizadas exclusivamente nas casas quando os cristãos foram impedidos de cultuar no templo, pois o judaísmo não aceitou a nova doutrina. Historicamente o primeiro templo cristão foi construído pelo imperador romano Constantino em 327 DC por influência de sua mãe Helena. Todavia essa verdade está prestes a cair por terra. Embaixo de uma igreja cristã moderna na Jordânia foram encontrados vestígios de um templo cristão construído

entre os anos 35 a 70 DC, semelhante a outro templo encontrado em Tessalonica. Um grande átrio com assentos de pedra em forma de círculo e um altar já foram localizados.

Não pode idolatrar o templo, mas Jesus está presente onde se reúnem “dois ou três” em seu nome, inclusive no templo. “Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. Mateus 18:20

4.2 – A prática do DÍZIMO foi abolida no Novo Testamento

Afirmam que não há no Novo Testamento nenhuma referência quanto à prática do dízimo, pois tratava-se de um tributo cobrado apenas dos judeus, logo os cristãos estão isentos. Jesus mesmo criticou os fariseus que exigiam os dízimos do povo. Seu texto predileto é II Coríntios 9.7 onde Paulo afirma que a contribuição deve ser conforme o que cada um determinar, pois “Deus ama ao que dá com alegria”.

REFUTAÇÃO

Há sim referências à prática do dízimo no Novo Testamento. Vejamos:

MATEUS 23.23 - Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas”.

Note que Jesus diz que eles não deveriam omitir as outras coisas, numa clara referência à prática do dízimo. Jesus condena a hipocrisia dos fariseus que eram meros religiosos, porém o coração estava longe

de Deus.

Hebreus 7.8 – “Aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive. ”

A carta aos Hebreus foi escrita por volta do ano 65 DC. No texto em pauta há referência da prática do dízimo.

Quanto ao texto de II Coríntios 9, não se refere ao dízimo e sim as ofertas para os cristãos pobres da Judéia.

4.3 – Não reconhecem AUTORIDADE PASTORAL

Alegam que o pastor não é autoridade, pois os pastores de hoje não possuem as qualificações prescritas no novo testamento. Os pastores citados na Bíblia dependiam apenas da unção do Espírito Santo e não de títulos e cursos teológicos. Quando a Bíblia diz que Deus deu uns para pastores não se refere a um título e sim a uma função. Além disso os pastores da igreja primitiva não recebiam salário.

REFUTAÇÃO

Nenhuma organização pode existir sem liderança. E liderança é autoridade. Deus levanta homens para cuidar de sua igreja. O pastor é uma autoridade constituída e como tal deve ser respeitado. É preciso entender que a autoridade pastoral não é absoluta. A autoridade pastoral implica em responsabilidade.

4.3.1 – Responsabilidade e autoridade para ensinar e pastorear.

“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”. Efésios: 4.11-12

“E rogamos-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam. ” 1 Tessalonicenses 5:12

4.3.2 – Responsabilidade e autoridade em proteger a igreja de falsos ensinos

“Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes”. Tito 1:9

4.3.3 – Responsabilidade e autoridade para supervisionar todo o trabalho da igreja

“Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”. Atos 20:28

É dever da igreja amar e obedecer ao seu pastor e vice-versa. Sem autoridade o pastor não poderá conduzir bem o seu ministério. Vejam o seguinte texto: “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”. Hebreus 13:17

A autoridade pastoral está condicionada à:

A. Fidelidade à Palavra – Se o que o pastor prega não estiver de acordo com palavra de Deus, ele não está sendo digno de ser obedecido. Se o pastor se afastar da Bíblia, perde a autoridade.

B. Convicção da chamada – Quem chama para o ministério é Deus. Quando o pastor não tem essa convicção, não tem autoridade para pastorear.

C. Coerência entre o que prega e o que vive – Se a vida pessoal do pastor não condiz com o que ele prega, sua autoridade acabou.

É bom lembrar que o pastor não é dono do rebanho, mas alguém que vai prestar contas ao sumo pastor das ovelhas que lhes foram confiadas. Autoridade não é autoritarismo. O ministério pastoral tem que ser exercido com amor. Vejamos o conselho do Apóstolo Pedro aos pastores:

“Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho”. I Pedro 5:2-3

O Novo Testamento mostra claramente que os apóstolos eram remunerados pelas igrejas as quais serviam. Confiram os seguintes textos:

A. I Timóteo 5.8 – “...Digno é o obreiro de seu salário”

B. I Coríntios 9.7 – “Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado? ”

C. I Coríntios 9.14 – “Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho. ”

D. II Coríntios 11.8a – “Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário...”

4.4 – Jesus não criou INSTITUIÇÃO

O maior argumento é que Jesus não fundou uma instituição e sim um organismo vivo, composto por pessoas regeneradas. As denominações são fruto da vaidade e ambição humanas. Não existem denominações na Bíblia, portanto quem ainda está ligado às denominações, desviou-se do verdadeiro cristianismo.

REFUTAÇÃO

A igreja enquanto corpo de Cristo não é um prédio construído com tijolos e pedras, mas por pedras vivas que são os discípulos de Jesus (I Pedro 2.5). As Escrituras usam vários termos para definir igreja:

A. Corpo de Cristo – I Coríntios 12-12.27

B. Pedras vivas e casa Espiritual – I Pedro 2.5

C. Rebanho de Deus – I Pedro 5.2

D. Herança de Deus – I Pedro 5.3

E. Esposa do cordeiro – Apocalipse 19.7. – Apocalipse 21.9 dentre outros.

Teologicamente igreja é definida como um grupo de pessoas regeneradas, lavadas pelo Sangue de Cristo, biblicamente batizadas, que se reúnem para adorar a Deus, pregar o evangelho, celebrar as ordenanças e estabelecer o Reino de Deus na terra.

Todavia a igreja tem também o seu lado humano e social. Não há como dissociar a instituição divina da instituição social. A Constituição Brasileira define o funcionamento das associações e a igreja é vista como uma associação religiosa sem fins lucrativos. Temos a garantia constitucional de liberdade e proteção aos locais de cultos. Sabemos que as denominações surgiram com a Reforma Protestante. Foi a igreja evangélica como instituição que elevou o desenvolvimento intelectual e moral do mundo. As nações que abraçaram a reforma são hoje países com nível social e econômico elevados. A Escola Dominical tão criticada foi responsável pela alfabetização e socialização de centenas de crianças em Londres. No Brasil a EBD foi fundada pelo casal de missionários escoceses Robert e Sara Kaley, pioneiros da Igreja Congregacional, na sala de sua residência em Petrópolis, com apenas 5 crianças.

A igreja é um importante organismo social. Ela serve como referência na formação moral, social e espiritual da comunidade. Uma igreja atuante encontrará espaço para servir à comunidade onde está inserida.

CONCLUSÃO

Concluo com um artigo do Pastor e médico Paulo Brito da Igreja Missionária Evangélica Maranata, publicado na revista Ultimato edição nº 350 setembro-outubro 2014.

Escolha uma igreja e volte

Não escolha a sua igreja necessariamente por causa da proximidade em relação a sua residência. Escolha uma igreja cuja a linha teológica ou litúrgica afine com você. Se Você gosta de louvar a Deus com cânticos e palmas, não faz sentido você procurar uma igreja diferente e vice-versa. Escolha uma igreja cujo pastor ministre ao seu coração. Você tem o direito de não se identificar com uma igreja cujas pregações não alimentem sua alma. Uma pregação vazia não combina com uma alma vazia. Escolha uma igreja que valorize o estudo bíblico. Tanto você quanto as suas crianças precisam de Escola Dominical. Cuidado com a igreja que não dá espaço nem às crianças nem aos jovens. Escolha uma igreja que seja transparente quanto à arrecadação de dízimos e ofertas, que preste relatório, que tenha um conselho fiscal. Escolha uma igreja que se mostre abençoada por Deus em seu ministério. Escolha uma igreja que pregue contra o pecado, que fale sobre o negar-se a si mesmo sempre que for necessário. Escolha uma igreja que não tenha a presunção de ser a única, a mais bíblica, a mais santa, a mais cordial, e que tenha comunhão com outras igrejas irmãs.

José Loula Júnior
Enviado por José Loula Júnior em 25/11/2022
Código do texto: T7657974
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