Poema

Poema

pedaço da minha alma

do meu sangue

vida por versos

eis o pacto o dilema

morte por estrofes

base informulada de concepção

tão indefinido que aberto

tão possível que inimaginável

tão louco

enfim insubstante

tão forte

tão puro

e tão

tão revoltante

poema-fera

poema-sonho

tarde de sol com escuro dentro

poema-morte

poema-tudo

noite fatal de amor ardente

poema

direi eu

absolutamente inconcreto

intocável

Criação homicida

sacrifício versado

morte silabada

sangue derramado em palavras

que geram verso

versos-ferida que obram estrofe

Pensar em constante delírio

amar em confusa tentação

coração

batimento

seta rompente

a noite

o dia

a casa morna

o monte

a água

o ermo final

poema que foge

que mata

diria

-caça-poeta

e o poeta caça a besta

enquanto caçado

pela mesma

orvalho manhã

sereno da noite

abraço fraterno

tenebroso açoite

poema é vida

vida que mata

morte que entra pela porta do pensamento

vida que desce pelas mãos à criação

incoerência de viver

procura incessante

e eu

bebendo versos- doce

cortando-me com silabas-fogo

e o poema torna-se

em suma:

uma ferida relâmpago

por onde sangram mundos

ao qual o Mundo

desconhece

Henrique António
Enviado por Henrique António em 27/05/2016
Código do texto: T5648769
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