Só que se faz poesia
Só que se faz poesia
Tristeza é tinta de alegria
E que o pincel da vida desbota
Boto bruscamente a bege bota
Visto o velho avental verde vistoso
E ponho-me a pintar
Cada palavra é quadro novo
Cada estrofe é novo povo
Cada escolha é outro estorvo
Cada letra é no estômago, um soco
Acabo por cuspir meu sangue
Tão raro líquido rubro
Que por essas horas descubro
Se tratar de minha vida engarrafada
Pode até parecer piada mal contada
Porque o único que ri sou eu
Enquanto encaram-me
Com um ar de idiota
De quem não entendeu
Em meio às palavras cortadas
Pelas navalhas de minhas risadas
A verdade ecoa:
Só que se faz poesia
Mas só que se faz poesia para viver
Então, só, bebo da fonte do nascer
Para então crescer e desenvolver
Até o meu perecer
Quando meus ossos serão vasos
Para a natureza florescer
Enquanto em meu túmulo
Talhada, estará a verdade:
Só que se faz poesia
Poesia é que nos salva da vida vazia
Vazia é a vida sem maresia
Maresia é amor em demasia
Demasia de amor é que nos balança
E torna essa vida leviana
Em uma arte italiana
Enquanto nos acabamos em dança