Como são loucos os poetas

Leva a mão direita à pena mas o coração antes;

escrever é conhecer por se importar.

Planta o que tu queres de humano da vida

e num poema o perfume das coisas não ditas;

que se ditas extraviam-se às coisas que acontecem e perdem a beleza de não existirem além do pensamento; de não serem cativas aos olhos ou aos livros.

Tivesse eu sabedoria voltava o tempo a não dizê-las todas.

Só algumas, pois sem um poema sou vendido ao depois de amanhã, tão longe e aparecendo as costas e só.

E pensando bem, a beleza de não existir além do pensamento o verso me parece egoísta; pensasse assim Pessoa, eu jamais o saberia e não escreveria estes versos e você que os estão lendo agora não os leriam nunca e não ficaria pensando como são loucos os poetas.