O solteirão

O dia nublado ressalta minhas olheiras.

O sol do final da tarde revela minha sombra envergada.

A brisa da noite que avança me lembra do meu atual estado civil:

vivo.

Veja aquele cara da capa da revista:

Não faz nada, cheio do dinheiro, vive bebendo e pegando lindas mulheres.

É o que chamam de "bon vivant".

Ele aproveita a vida.

Eu também gosto de aproveitar a vida.

Como não tenho dinheiro,

me classificam como "sem-vergonha" mesmo.

O shopping está cheio

e já recebi mil propostas:

o sorriso da menina de bota rosa,

o olhar malicioso da morena perto do cinema,

as mãos da ruiva entre as amigas apontando para mim.

Agora vou avaliar as propostas

e, claro, fazer contrapropostas mais ousadas.

A noite... a noite foi como poucas.

O corpo ardente na minha cama descansa

eu permaneço acordado.

O êxtase já passou.

Ficou algo.

Não sei bem o quê.

Talvez aqueles pensamentos que rondam nossa cabeças nas monótonas tardes de terça-feira sobre nossa vida.

Pensamentos sobre o futuro, compromissos, trabalho.

Aquele estranho desejo de ter alguém ao seu lado para sempre

em todos os momentos.

Esse é o que mais perturba.

Ele espera os momentos mais inoportunos, quando fico vulnerável

para assaltar minha mente

e aqui está ele de novo

tentando me convencer a enfrentar

a armadilha dos compromissos.

Espanto ele e toda o enxame de idéias como se fosse um bando de pombos.

Após a revoada de pensamentos

viro o rosto contra o travesseiro.

Teu cheiro a me lembrar o show que fizemos na cama

e a validade de alguns pensamentos perturbadores.

Vinicius AA
Enviado por Vinicius AA em 13/08/2011
Reeditado em 13/08/2011
Código do texto: T3158198
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.