"O Homem Feio"ou "O Vilarejo"--Contos Curtos.

“O Homem Feio”ou "O Vilarejo" - Miniconto.

Desde pequeno era feio dizem as pessoas que o conheciam e o espiavam no carrinho de bebê com a cabeça enterrada em uma touca que a mãe lhe punha para esconder a feiura . Só que o truque não funcionava, pois emergia de dentro desta touca uma horrível caratonha nariguda, meio bebê , meio homem.

E de bebê feio, aos poucos , ao crescer, dizem os conhecidos, ainda conseguiu ficar mais feio do que realmente era na realidade,pois ficou mau, ressentido com sua natureza, com as pessoas, e feiura mais brabeza são horrendas. Fosse mais simpático, soubesse fazer blague, humor, de sua feiura, fosse mais generoso, vestisse com mais discrição ,elegância , ao invés de usar terríveis mocassins cor de cenoura em seus pés enormes ,que equilibravam um volumoso abdomem , seria mais aceito ,seria até querido pela comunidade e com moça casadoira ficaria ,posto que isto, entre amigos se arranjaria.

Porém, o homem feio fazia questão de ser medonho e pessoalmente cresceu ao longo da vida, desenvolvendo todas as más qualidade possíveis e imagináveis ao ser humano, já que provocava, debochava, caluniava e ofendia os demais , aqueles que ele acreditava serem bonitos, a ponto de ser apontado como ruim pela comunidade, onde dele passaram a dizer que não sabiam mais se era somente feio ou se era somente mau e onde vieram a concluir que era um misto dos dois, que sua feiura determinara sua maldade , e por isso ,no momento, não era mais somente um homem feio ,como existem aos milhares, era" o terror" e assustava crianças, pessoas e passarinhos.

E Daví , o homem feio, posto que era este seu nome ,sabia dos comentários a respeito dele, sabia que tinha ficado mau com o passar dos anos ,e passava a se olhar no espelho onde, ao seu ver , para si, justificava todas as suas atitudes com os demais,acreditando diante de sua imagem que tinha toda a razão em se tornar uma pessoa ruim, já que nascera marcado com o estigma físico da fealdade, da mediocridade e do horror.

Passou a exercitar os dotes sádicos no vilarejo onde morava, cada vez mais assiduamente ,a ponto de, por antemão, as pessoas se afastarem dele e onde podia ter inspirado dó, compaixão e desejo de ajudar, começou a inspirar rejeição, preconceito ,perseguição e agressão.

Aos cinquenta anos era a imagem da solidão, pois era sómente ele ,o espelho a recordar dia a dia sua feia maldade, e mais um coitado de um cão por ele maltratado.

E o vilarejo todo aprendeu com o homem feio que, pior, era sua feiura interna, sua feiura de sentimentos, sua feiura da revolta continua ,sua feiura da falta de solidariedade, sua feiura do desamor ,da mesquinharia, do egoísmo, sua feiura feita de raiva e ódio , enfim.

E dele dizem ,quiçá para fazer blague desta miséria toda que se abateu sobre a pequena cidade , que o homem feio é, mesmo ,o seu Daví, e que este, o seu, também matou o gigante Golias , mas não com uma funda e pedrinhas, mas sim de susto ao vê lo com seus enormes sapatos cenoura, plantados no chão, por cima da areia ou poeira do próprio e terrível ódio .

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 07/09/2014
Reeditado em 08/09/2014
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