Microcontos

Tema: Comício

Estavam todos alvoroçados, a praça cheia, mais e mais pessoas chegando. A hora do discurso se aproximava. A disputa pela vida dos cidadãos através do voto ia começar.

Depois de ler a previsão do tempo para a semana, joguei o almanaque na mesinha de centro e saí com um sorrisinho no canto da boca: cairia uma tempestade durante o comício.

Cheguei ao comício. Fui preparado para a tempestade prevista: capa de chuva, botas sete léguas, tudo no carro. Se viesse mesmo, seria literalmente um balde d'água, nesse caso muito mais que um balde, nos embusteiros. Fiquei ansiosamente aguardando o embargo daquela patifaria.

Começaram os discursos. Promessas e afagos no ego dos ouvintes. E da chuva prevista nem um pingo. E o povo se empolgando, aplaudindo.

"Falar a língua do povo durante a campanha é fácil. Quero ver depois de eleito", pensei.

Durante o discurso do candidato a prefeito, vi chegar um ônibus procedente do sertão cearense e parar no terminal rodoviário ao lado. Dele desceram pessoas com as malas e o coração cheios. De roupas e esperança. De objetos e de sonhos.

O frenesi de gente descendo do ônibus, gente falando, gente andando, lembrou-me uma dança gigantesca. Sim, o lugar parecia-me uma enorme discoteca.

O céu estava escurecendo, a chuva viria. Fui ao banheiro no terminal rodoviário e, já no lavatório, pensava na grande quantidade de novas pessoas no bairro. Neste momento a chuva começou.

Eu era sorriso puro quando vi que a chuva começava. O ladrão da vez, um candidato a vereador, acabara de subir ao palanque, mas, seu discurso foi por água abaixo.

Não é que o candidato continuou falando, mesmo com o povo correndo da chuva? Fiquei sem entender. Quem sabe um neurologista ou psiquiatra me ajude a entender a cabeça de um político? É, talvez a medicina explique-os.

De 21/04/17 a 29/04/17

Desafio: palavra do dia em ESCAMBANAUTAS