Morte

A NOITE, O CÉU E A MORTE

Abro a janela e percebo que a noite está zombando de mim.

Ela escondeu todas as estrelas sob sua túnica negra.

Só vejo morcegos voejando no jardim.

Irada, penso em lhe exigir que devolva os diamantes que cintilavam em minha vida. Mas me calo.

Tenho medo que ela responda que eu não os mereço.

Tenho medo que ela mande mais morcegos.

DIVÓRCIO

Civilizadamente assinaram os papéis e se despediram do juiz.

No estacionamento, ele a avistava na calçada. “Finalmente. Estou livre.” Pensou enquanto acenava para ela.

Ela, compenetrada, aguardava os carros passarem para atravessar a rua. Quando viu uma moto, titubeou. Só decidiu atravessar quando um caminhão estava próximo demais para poder frear.

Só teve tempo de gritar o nome dele. O “Eu te amo” ficou apenas na sua vontade.

No diário dela, o desabafo: “Ouvi-o dizer que pretende me matar. Assim poderá casar-se com aquela puta. Eu o amo demais. Não quero que ele me esqueça nunca.”

SOLIDÃO

O vinho caríssimo escorre pela garganta sedenta, preparando-o para a próxima degustação.

Do outro lado do bar, a moça pensa:

“Com esse me deito. Estou morrendo de solidão...”

Ele regozija em pensamentos carnais:

“Hoje me deleito. Carne nova, sangue fresco!”

Horas depois, ele a deixa desacordada sob os lençóis de cetim carmim. Antes de sair, deita uma rosa vermelha sobre o criado-mudo. Entra no carro, com o sangue ainda escorrendo pelos lábios.

Simone Pedersen
Enviado por Simone Pedersen em 28/12/2011
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