FINAL HONROSO

O diagnóstico era definitivo. Tetraplegia provocada por secção da medula na altura da 4ª vértebra cervical.

Definitivamente preso à cama ou amarrado a cadeira de rodas. Andar ficara no passado.

Estaria condenado a viver deitado aguardando que os órgãos fossem pouco a pouco se deteriorando e entrando em falência múltipla, até que por conta da auto intoxicação, houvesse a paralisação total de todo organismo.

Isso podia acontecer num prazo curto, mas também poderia passar longos e penosos anos de sofrimento para os que estivessem cuidando e principalmente para mim.

Diariamente o constrangimento de ser alimentado, lavado e vestido por outras pessoas que teriam suas vidas completamente alteradas para viverem a vida que era minha, mas que eu não tinha condição de vivê-la sozinho.

Dali para frente era a dependência total.

Seis meses depois do acidente provocado pela bala perdida que me achou em sua trajetória, prostrado na cama, o intestino deixara de funcionar espontaneamente, o laxante já não fazia efeito nem o estimulante mecânico.

Então além da bolsa presa ao final da sonda urinária, agora eu teria uma bolsa de colostomia.

Talvez daqui a breve tempo fosse necessário um traqueóstomo porque os pulmões estavam perdendo a mobilidade devido ao mau funcionamento do diafragma por permanecer deitado as vinte e quatro horas por dia.

As escaras já davam os primeiros sinais na pele das costas e nádegas.

O princípio samurai “Morre com honra, quem não pode viver com honra” indicou a saída.

Pedi a um amigo que me fosse aplicada, via endovenosa, 10cc da solução de cloreto de potássio.

E tudo teve fim.

Este conto é dedicado a todos aqueles que têm consciência de que a nossa vida nos pertence e que o nosso destino é o resultado de nossa determinação.