Ele gosta de caminhar pelas fontes da cidade, sob aqueles entardeceres avermelhados que brilham sobre as águas. Caminhando esvazia-se das tensões  e rearranja os sentimentos desbotados pelo cotidiano. As fontes de água, as árvores, os pássaros, o sol poente o tornam mais humano. É como se a natureza lhe desse prumo. Por vezes, encontra amigos e amigas e caminham juntos fazendo brotar conversas descomprometidas de entardecer, com intenção filosofal de explicar as coisas que não se explicam.
        Depois volta para casa, mais tranqüilo, como se todos os problemas do mundo tivessem sido resolvidos. Claro que não. Os problemas ressurgem a cada nascer do sol. E assim vai vivendo. Mesmo no confuso lusco-fusco de cada dia.
        Atravessa o jardim para entrar em casa assoviando Gonzaguinha, que a vida é bonita, é bonita e é bonita. A vida, afinal, foi feita para ser vivida com toda sua força e maravilha, deixando que quando  for a hora, a foice do tempo faça o seu trabalho e o leve para outros destinos, outras fontes de água pura.