FELIZ ANIVERSÁRIO

Uma espécie de liturgia dos prostíbulos proibia beijos na boca. Putas, jamais beijariam seus clientes na boca.

Porém, naquela noite, deixou-se beijar por um cliente bonito, jovem e inocente...Ela até sentiu prazer.

O sol já bordava o espaço entre o céu e o mar quando ela, cansada, exaurida, subiu para o seu quarto. Agora, sozinha, sua companheira morrera há uma semana de pneumonia aguda. Escancarou as janelas, acendeu um cigarro e jogou-se na pequena cama. ficou horas a fio tentando dormir. Respirando o ar insalubre daquele ambiente, sonhava acordada. A mãe, família e os amigos que há muito deixara e que nunca mais teve ou deu notícias. Seu pai, nunca soube quem era. Lembrou-se que lhe contavam histórias quando era pequena... da boneca de pano recheada com palha de milho. Tentou sorrir, chorou.

Chorou copiosamente até que as lágrimas secaram. Então, não tinha mais nada de seu, nem o próprio corpo.

Na posição fetal finalmente dormiu, dormiu profundamente e as mãos maternais da brisa acariciaram seus cabelos. Era o dia do seu aniversário.

Quando acordou o seu quarto estava mergulhado na escuridão. O dia morrera, e junto, as esperanças de Elisa. Pobre Elisa. Acionou uma pêra e uma luz pálida se fez no ambiente. Sem pressa preparou o seu banho. Depois colocou o seu melhor vestido e um perfume barato, mas não desceu. Adeus dias féleos.

Rabiscou alguma coisa num pedaço de papel. Conferiu a tranca da porta, fechou as janelas e abriu o gás.

José Alberto Lopes®

Set. 24/2012

José Alberto Lopes
Enviado por José Alberto Lopes em 27/09/2012
Reeditado em 20/11/2023
Código do texto: T3904368
Classificação de conteúdo: seguro