A GATA
 
 
Há tempos atrás, sentindo uma gatinha a miar junto à janela, abri-a, contemplei o animal, era elegante, lindo e pareceu-me meigo. Acariciei-lhe o pelo luzidio, miou de satisfação. Pus-lhe um prato com leite, que lambeu com avidez.
Todos os dias passei por esse ritual, ela vinha miar junto à janela, bebia o leite do prato, umas quantas carícias no lombo e na cabeça, depois ia embora.
Um dia, quando mais uma vez a acariciava no lombo enquanto bebia o leite, virou-se de repente e mordeu-me a mão, arranhando-me com violência. Fiquei surpreendido com a reação, tal nunca tinha sucedido nem me pareceu haver motivo para tal. Depois do sucedido, esperei que aparecesse, mas nunca mais voltou.
 Fiquei triste, tinha pensado até em acolhê-la em casa, mas reconsiderei face ao procedimento. De fato, quem nasce para vadiar nunca muda.