A LENDA DO PÁSSARO E O FACHO DE LUZ

Era uma vez, um pássaro.

Já havia voado como qualquer outro da sua espécie.Vôos normais,daqueles que pássaro voa quando leva comida pro ninho. Já havia chocado seus ovos e ensinado sua passarinhada a voar e a fazer seu próprio ninho. Mas não estava satisfeito. Queria voar mais alto e fazer coisas que nenhum outro passarinho se atreveria a fazer. Olhava a revoada das andorinhas,mas queria mesmo era partir numa nuvem de gafanhotos. Ouvia o canto dos pardais mas queria cantar como as cigarras e então, sofria. Sofria porque não via a felicidade em ser como os outros pássaros. Sofria porque não sabia como fazer para ser diferente. Sofria porque sentia um estranho prazer em sofrer. E então,um dia, uma fresta de luz esgueirou-se ninho a dentro e lhe perguntou:

__Posso ensinar você a conseguir o que quer,mas terá que perder muitas penas... Ficará durante um período sem conseguir voar e sem conseguir cantar e quando não mais aguentar e se der por vencido pela vida poderá escolher em voltar a ser como os outros pássaros ou ...

O pássaro coçou a cabeça, pensou e aceitou a única possibilidade que o facho de luz lhe ofertava. E sofreu. Sofreu a dor de não poder mais voar, de olhar a revoada das andorinhas e não poder acompanhar,de escutar o canto do sabiá e não poder mais cantar. Mas alguma coisa dentro dele alimentava a esperança de que tudo mudaria, que não era justo passar por tudo aquilo por nada. E tinha fé. E continuava acreditando em si mesmo... Um dia, quando estava prestes a desistir de tudo,procurou o facho de luz por toda a parte e não encontrou. Como não podia mais voar,subiu no galho mais alto,da mais alta árvore e pensou em se atirar. Fechou os olhos, arremessou-se no ar e quando esperava o impacto seco com o chão,sentiu alguma coisa espetando-lhe a asa direita. Havia ficado preso por um fino galho de árvore. Olhou ao redor e sentiu a brisa do vento lhe acariciando a plumagem, a luz do sol queimando-lhe o bico e teve vergonha de si mesmo. Observou as folhas das árvores que se agitavam com o vento. As folhas que caiam das árvores faziam tapetes pelo chão e a brisa da tarde as agitava numa nuvem de poeira que as levavam para bem longe dali. Desceu da árvore,pegou as folhas que podia com o bico e trançou-as folha por folha por entre as penas que lhe restaram. Subiu no galho mais alto, da mais alta árvore e lançou-se no ar. Sacudiu as penas,agora recoberta por folhas e deixou-se levar ao sabor do vento. Sentiu o facho de luz sobre a sua cabeça e entendeu que ele estivera ali,o tempo todo e voou mais alto e mais longe do que qualquer outro pássaro um dia havia sonhado em voar...