Autorretrato

Sentada em sua cadeira confortável em frente ao computador ela se prepara para escrever, seus óculos estão tortos como sempre, mas ela não liga mais, não tem dinheiro para nova consulta ao oftalmologista e para o absurdo dos preços de óculos novos.

Sua mente fervilha de ideias, tornando difícil escolher uma só. Ela compara sua mente a um poço profundo e denso, cheio de ideias grandes e pequenas, bobas ou brilhantes, que nadam, borbulham e sobem para respirar ocasionalmente.

Ela pega sua vara de pescar ideias e coloca isca no anzol, dá bastante linha e lança ao poço, logo uma ideia morde a isca, ela luta para coloca-la para fora, briga ferozmente com a vara e por fim consegue pescar uma ideia razoável, examina e disseca o pescado, entende e captura a sua essência.

Quando dá por si, seus dedos já estão digitando, quase que sem interferência de sua mente, eles parecem criar, copiar e desenhar a ideia sozinhos. Estranhamente ela não consegue pensar ou formar uma frase sequer, sem ter seus dedos deslizando sonâmbulos pelo teclado.

Quando acaba de escrever, lê admirada o texto e não acredita que foi produzido por ela e mesmo assim se sente frustrada, pois o texto é só um rascunho da ideia original, mas ela nunca desistirá de encontrar uma forma de retratar suas ideias com perfeição. Até lá se contenta em melhorar seus rascunhos e quem sabe um dia alcançar uma brilhante ideia e descrevê-la brilhantemente.

Priscila Pereira
Enviado por Priscila Pereira em 30/05/2014
Código do texto: T4825918
Classificação de conteúdo: seguro