Rua Itapeva

O luminoso acendia as letras azuis do Hotel Salvatori, depois ficava verde, depois cor de rosa. O letreiro piscante estava postado entre as duas sacadas do primeiro andar e alcançava os pés do terceiro e ultimo. O hotel tinha uma pequena entrada com uma porta simples de vidro. A fachada toda não ocupava mais de três metros na calçada. Ao lado direito uma mercearia, já fechada, não apresentava nenhum som. O letreiro ficava um tempo azul, um tempo verde e depois um tempo cor de rosa. As luzes iluminavam a rua deserta e silenciosa da madrugada. Sem vento, muda e pacata uma loja de chaves ocupava a calçada em frente, ladeada por uma pequena padaria a esquerda e um moto peças a direita, ambos fechados. O peso da noite fazia-se presente e apenas uma luz, num poste no meio do quarteirão, iluminava o asfalto. E as luzes do néon do letreiro fundiam-se às outras e faziam os locais resplandecerem azuis, verdes e cor de rosa.

Na esquina havia um açougue, que ficava ao lado do hotel, à esquerda. E ali acabava a rua Itapeva, que era cortada pela rua Mauí e não continuava depois desta. Formava-se uma encruzilhada, com casas a direita e a esquerda seguindo os sentidos leste-oeste da Mauí.

E ali naquela esquina o luminoso do hotel brilhava em três cores, com a mesma constância entre elas; sempre num mesmo espaço de tempo a rua e os prédios em volta se iluminavam pelas mesmas três cores.

Eu terminei de fumar meu cigarro. Não estava olhando para o luminoso, mas sabia que ele estava bem atrás de mim, entre a minha sacada e a da vizinha. E eu olhei para os meus pés, eles estavam repousados no peitoril em estilo franco-germano com minhas sandálias de couro. E meus pés, o peitoril e as sandálias ficavam azuis, depois verdes, depois cor de rosa. Então novamente azuis, depois verdes, depois cor de rosa.