Recuou alguns passos para melhor apreciar o efeito do grande e negro piano postado no canto esquerdo do amplo salão: o marido era mesmo um anjo descido do céu, que vivia de satisfazer-lhe as vontades. Aproximou-se do imponente instrumento importado do estrangeiro, agora todo seu. Admirou as finas mãos, deslizou suavemente os longos e brancos dedos sobre o teclado: notas de um som secular invadiram o ambiente, trazendo algum retalho de passado, despertando antigas memórias, que nem ela mesma sabia a razão. Sorriu levemente para a própria (e belíssima) imagem refletida no espelho da parede: agora só faltava contratar o jovem professor com quem se perdera em delícias de olhares no último recital do clube... Ia pedir ao marido que fizesse isso...