A Mulher Feia

 
 Ao olhar-se no espelho, Feia recuou maravilhada: no lugar das faces encovadas e pálidas, maçãs salientes e rosadas; os olhos, antes nodosos e quase sem brilho, agora ampliados numa luz cor de mel a iluminar-lhe o rosto... A desenhar-lhe a boca, lábios polpudos e bem delineados. E as sobrancelhas? Intensas e vivificadas num traço perfeito. Emoldurando-lhe a fronte lisa, sem qualquer marca, bastas e ricas madeixas castanhas cambiando para o dourado...

 Não, não! A coisa não  parava por aí! Feia sorriu.  Uma fieira  de dentes  de marfim lhe correspondeu...  Feia cantou.  A voz lhe veio vibrante, entoada e cristalina, alcançando o estrídulo das cigarras. Feia valsou: era quase um cisne, tal a leveza  do corpo agora escultural, de membros bem torneados e cinturinha de  formiga. Sim! Era uma mulher do outro mundo!

Jornais, revistas, TVs,  rodeavam  Antiga Feia querendo saber sobre o fenômeno.  Ela não sabia o que dizer, embora um pensamento insistente teimasse em levá-la à estranha mulher que lhe passara um pacotinho na Praça da Catedral, no dia anterior... “Extrato de Psonalinamíntpes”. Será? Seria?