A VELHA E A BENGALA

Toc, toc, toc, toc!

----Broaca lazarenta! Velha do cacete! Passa o dia inteiro batendo essa merda dessa bengala no chão!

A velha broaca a que ele se referia morava sozinha no andar de cima. Tinha lá seus quase oitenta anos e passava o dia todo andando de um lado para outro espetando aquela maldita bengala sobre o piso do apartamento. Gaspar, que morava no andar debaixo, já havia reclamado com o síndico sobre aquele inconveniente, porém de nada adiantaram as suas queixas.

Toc, toc, toc, toc

Naquela manhã a velha broaca parece ter acordado com diabo no corpo. Não parava um só segundo de andar de um lado para o outro batendo com a sua bengala no chão. Gaspar pegou a vassoura e começou a cutucar o teto tentando alertar a velha broaca de que aquele seu bater de bengalas o estava incomodando, porém parece que por pirraça ela intensificou ainda mais as batidas.
Ele desceu até o térreo e mais uma vez foi reclamar com o síndico, que prometeu conversar com a mulher. Por alguns dias parece que ela ponderou um pouco com as batidas infernais de sua bengala. Todavia não demorou muito e voltou às suas incansáveis batidas pelos cômodos do apartamento.

Toc, toc, toc, toc

Aquilo estava deixando o pobre do Gaspar de cabelos em pé. Até que certo dia estranhou o silêncio no andar de cima. Na parte da manhã todinha não ouviu um só toc, toc. Gaspar desceu e perguntou ao rapaz da portaria se a velha havia viajado, pois estava achando estranho aquele silêncio todo. O rapaz chamou o síndico e subiram para verificar se estava tudo bem com a mulher. Encontraram a porta encostada. Bateram duas ou três vezes e não obtiveram resposta. Resolveram entrar e encontraram a pobre mulher caída na sala, já morta. Sofrera um enfarto fulminante durante a noite. Avisaram a polícia e em seguida os familiares, que providenciaram o sepultamento.
Gaspar, sentiu um certo alívio por não ter que conviver mais com aquele maldito barulho vindo do andar de cima. Já havia passado quase uma semana do falecimento da pobre mulher, quando o Gaspar olhou para o relógio na parede da sala que marcava quinze para meia noite e resolveu desligar a televisão para dormir. Foi até a cozinha, mornou um copo com leite e bebeu antes de ir para a cama. Já no seu quarto acertou o despertador para acordá-lo às sete da manhã. Deitou-se e puxou o cobertor sobre a cabeça. Já estava quase dormindo quando de repente ouviu um barulho vindo do andar de cima.

Toc, toc, toc, toc

Gaspar descobriu a cabeça para certificar se havia ouvido aquilo mesmo ou se apenas havia sonhado.

Toc, toc, toc, toc

Gaspar arregalou os olhos não acreditando no que estava acontecendo. Cerrou os punhos violentamente e berrou a todo pulmão:

----Sossega o rabo velha desgraçada! Amanhã vou ter uma conversa séria com o administrador do cemitério!

Cobriu novamente a cabeça e voltou a dormir.