Tsuru: Sussurros poéticos
Às vezes é necessário se esconder, ficar um pouco à margem da sociedade e ser tido como um escritor que mora numa montanha e só desce de dez em dez anos, como um cometa raro, para publicar alguma obra de impacto. Sabe por quê? Porque o maldito intelectual pode não controlar a libido e acabar por transar com alguma leitora, o que de alguma forma pode gerar balbúrdia visto que a sociedade está ocupada demais vendo novela e cuidando de quem está com as mãos nos seios de quem.
Que seria, porém, o escrevente sem os seus amores? As pessoas que se danem, ele não escreve, por que iria viver para agradar? Mas tudo bem, o foco narrativo desse texto é Carolina que, inclusive, teve um caso com o famigerado artista.
Acontecera na adolescência, Carlos a conheceu no último ano do ensino médio. Não diria que estavam a namorar, tampouco ficar, era algo como dois adolescentes a se conhecer. Mas o na época aspirante a escritor sentia demais e, por conseguinte, precisava exalar seus sentimentos em versos. Escrevia, portanto, todas as noites, poemas de amor para a sua amada.
“Mais um tsuru?”
“Dizem que quando fazemos mil, podemos fazer um desejo…”, ele comenta a beijar a bochecha de Carolina que também o amava, mas sempre ficavam tão extasiados com a presença um do outro que, perdidos, não percebiam que o sentimento era recíproco.
“MORRE CARLOS HONORATO”
As manchetes do país estavam a cobrir a morte do romancista, poeta, advogado e empresário Carlos Honorato enquanto Carolina se desmanchava em lágrimas em sua mansão no Morumbi. O romance de juventude, pelo mal entendido, nem engatara. Carlos se tornara um homem notório enquanto Carolina, nada mais que uma das maiores cirurgiãs cardíacas brasileiras.
Se dirigiu ébria à biblioteca, puxou de uma gaveta escondida uma caixa de madeira com todos os pássaros de papel feitos por Carlos na época da escola e em nostalgia, imergiu novamente em lágrimas.
“Como aquele filho da puta ousa me deixar desse jeito? Não, não, não!”, e num excesso de raiva, Carolina rasga um dos pássaros e descobre que no interior dele havia um bilhete de amor:
“Você é um poema vivo, estou completamente apaixonado por você.’’
Era recíproco, e tarde, mas recíproco. Todos os pássaros foram abertos e dentro de cada um deles havia um poema, uma declaração, um sentimento e em Carolina o profundo arrependimento de não ter seguido a sua intuição.
Todos os fatos ou semelhanças com a realidade são mera coincidência
PEDRO K. CALHEIROS