FICAR PRA SEMENTE

Enquanto acompanhava o enterro, Luiz meditava sobre a vida. No trajeto de quatro quilômetros, desde a casa do morto, de quem era amigo desde a infância, até o cemitério, passou a limpo toda a sua trajetória de vida; desde menino, até aquele momento, quando já se encontrava na casa dos setenta. Tudo pareceu-lhe muito rápido: "Um dia desses, meus filhos eram crianças brincando no quintal, e agora já estão adultos, criando seus próprios filhos"; "daqui à pouco, serei eu fazendo esse trajeto dentro de um caixão"; "O que construíra na vida, além dos filhos?"; "Pudesse eu viver ainda muito mais, quem sabe não daria mais frutos", pensava.

Lá pras tantas, já próximo da entrada do cemitério, acudiu-lhe uma idéia: "E se, diferente dos outros, em vez de ser enterrado no cemitério, eu seja enterrado no quintal segurando um caroço de manga, e em vez de morrer, meu corpo passaria a ser parte de uma mangueira e viveria ainda por muito tempo dando novos frutos!". Após o enterro, voltou pra casa decidido.

Chico Alves dMaria
Enviado por Chico Alves dMaria em 28/07/2022
Código do texto: T7569957
Classificação de conteúdo: seguro