O SOFÁ

Na primeira fotografia do sofá, estávamos em 1944, sentados eu, meus pais e, na outra ponta, meu irmão. Ele devia ter uns treze anos; eu, perto de completar dez. Meus pais, nessa época, eram jovens e sorridentes.

Na segunda foto, em 67, meu irmão não se encontrava entre nós. Um ano antes, quando voltava do litoral com uns amigos, sofrera um acidente de automóvel e dias depois morreu no hospital. O sofá era o mesmo, mas em nossos semblantes nem a sombra da felicidade flagrada na primeira foto.

Da primeira para a terceira fotografia, passaram-se 41 anos. Em 1985, sentados no sofá, aparecemos somente eu e o meu pai com seus cabelos brancos, ar cansado, viúvo. Minha mãe havia sucumbido a diabetes. O sorriso forçado de nós dois era mais triste que uma careta de choro.

Na quarta foto, em 92, era a ausência dele que se fazia presente. Morrera dormindo, neste mesmo sofá. O eletricista, a quem pedi para bater a fotografia, deve ter achado um pouco estranho uma solteirona como eu querer ser fotografada sozinha num sofá tão desgastado.

Agora a máquina é outra, bem mais moderna. Nem precisa de filme. Também haverão de achar estranho que alguém queira imprimir a fotografia de um sofá velho e sem ninguém.

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