A canga no boi.

Como passava com a estrada alagada? A partida era ir, margear o canavial, e parar na vila ao lado, mas não dava, a boiada não ia com o aguaceiro — coisa feita, de certo; como riacho se cria do nada? Vieram, quem, arrastando aquela água, sabendo do negócio. Era o menino, e o velho, também os bois, de carro, quase trinta, todos de barro, só um preto. O menino ia quase de brinquedo — na verdade, o mandavam mesmo por medo do velho cair pelo meio do caminho —, porém ali era caso de sua certa precisão, tirar da cabeça a solução para mostrar que servia de algo. O senhorzinho na inércia, em seu banco no carro, só parava o ar com o olhar, nada mais. Por mais que lhe viesse pergunta, se emparedava, talvez fosse ali não entrega ao acaso, mas força para criar, do outro. O menino, por anos, deverá de estar no lugar, levando o carro, enquando o velho cravará o corpo no chão; voz nenhuma, pensamento algum, só o se virar do vivo. E ficava parado, apertando a água, vendo graveto ir embora. O mais da hora, vendo o boi preto, o especial, encarador, viu o certo: que deveria ser solto. Feito isso, sua régua era em pôr a canga nele e, em cada lado, amarrar um facão. Foi-se embora por dentro do canavial, abrindo rua, e a boiada indo junto.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 26/02/2024
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