Sobre o natalício de Jesus de Nazaré

As datas dos finais de Dezembro som as festas do Natal celebradas em todo o mundo e nas que o cristianismo comemora o nascimento da sua figura central e fundamental: Jesus de Nazaré, de quem se diz ter nascido segundo a oficialidade católica a noite do 24 para o 25 desse mês há agora 2008 anos.

Mas a data de nascimento de Jesus tem sido discutida por muitos historiadores mesmo dentro do próprio cristianismo que nom chegou a um acordo até muitos anos depois de ter sido consolidado o seu poder na Europa. Há muitas teorias no que diz respeito, entre as que salientamos a ortodoxia oriental e arménia que mantém o dia 6 de Janeiro.

Para o cristianismo chegar a conclusom de que a data em questom é o 24-25 de Dezembro tivo que levar a cabo as suas investigações em épocas nas que o dogma nom estava consolidado, superando as prioridades que a hierarquia religiosa mantinha antes do século IV que nom eram precisamente o datar o natalício do seu protagonista.

Lá polo século III da era cristã, quando esta religiom começava a adquirir certo poder social e mesmo político dentro do Império Romano chegaram-se a propor diferentes dias e meses, todos eles tendo como base os Evangelhos: O 6 de Maio, o 10 de Maio, o 20 de Maio, o 25 de Maio -este último proposto com certa lógica por Clemente de Alexandria-, o 25 de Março, o 15 de Abril, o 20 de Abril, o 25 de Abril, Outubro, Dezembro, Janeiro...

Mesmo consolidadas as igrejas orientais posteriormente ao cisma, os arménios dataram a importante data o dia 6 de janeiro enquanto o egípcios coptos, os gregos e os etíopes adaptaram sincreticamente costumes autóctones decidindo que esta poderia ser o 8 de Janeiro.

A proliferaçom de datas fez com que os Papas ficassem cansados de tanta elucubraçom inútil até que finalmente Fabiám decretou a proibiçom de continuar a especular sobre o assunto tanto mais quanto que a maioria dos investigadores cristãos optavam por datas determinadas polo começo do inverno. A causa é por razões políticas. Esta dataçom entrava em contradiçom, com um parágrafo do Evangelho de Sam Lucas (Lc. 2,8) que afirmava; “Havia uns pastores por aquela mesma regiom que passavam a noite ao ar, vigiando por turno o seu rebanho...”.

Nesta data na que se narra a anunciaçom do nascimento de Jesus aos pastores, fala-se de que dormiam baixo o céu, o que nos dá que pensar que o evento nom poderia coincidir com os meses de começo do inverno, justo quando na Palestina faz mais frio embora estejamos falando dum país mediterrânico cuja temporada de mais baixas temperaturas coincide com as datas das que estamos a falar.

Finalmente chegou a haver mais de 130 datas diferentes, todas mais ou menos viáveis, polo qual no Concilio de Niceia se propõe algo que posteriormente iam aceitar os Papas Júlio I e Libério: Considerarem o 24-25 de Dezembro como referência chave, justo quando os romanos celebravam o Natalis Solis Invictis.

Alguns autores afirmam que anos atrás, quando as perseguições de Diocleciano, Décio e Valeriano os mesmo cristãos faziam as suas festas nessas datas para passarem desapercebidos de forma mais eficaz no meio da festa pagã. De se celebrarem estas em outro momento seguramente que iam chamar mais a atençom das autoridades romanas que nom veriam o momento de apanharem, levarem ao cárcere e prepararem com isso o alimento dos leões e outras feras em espectáculos que completavam as necessidades da plebe romana. Já sabemos: “panem et circenses”.

A data do 24-25 de Dezembro foi considerada como arbitrária por muitos mas perante a desinformaçom sobre tal evento os Papas decidiram também essa data nom só por razões de estratégia perante a realidade festiva romana mas por ser esse dia, o 25 de Dezembro, o terceiro dia posterior ao Solstício que marca segundo as mitologias de época o renascimento da luz de entre as trevas, dia no que curiosamente nascem também outros deuses da maioria das mitologias europeias e asiáticas: As festas Dionisíacas para os gregos; as Saturnálias romanas dentro das quais estaria a celebraçom acima citada do “Natalis Solis Invictus”; o Hórus egípcio, Mitra, Hu, Krishna, etc. Todos estes deuses caldeus, egípcios, persas, sírios, fenícios, celtas, gregos, romanos e ainda mais outros celebravam o mesmo evento festivo: os seus nascimentos.

Curioso é também o facto de os espanhóis chegados a América encontrarem os aztecas celebrando o nascimento do deus Huitzilopochtli também em data de 25 de Dezembro.

Essa coincidência aparente ilógica poder-se-ia exprimir por ser a religiom naturalista de culto aos fenómenos naturais a religiom mais comum a toda a humanidade desde que o Homo Sapiens começa a acreditar em algo sobrenatural. É lógica, portanto, do nosso ponto de vista a coincidência entre mesopotâmicos, indianos, europeus, africanos e povos ameríndios como posteriormente se veria também com povos da Oceânia.

No século VI d. C. o Papa Joam I tivo a tentaçom de investigar mais profundamente sobre a data real do nascimento de Jesus, encomendando a Dionysius Exiguus o trabalho de procura de material e fazer qualquer tipo de conclusom sobre o assunto. Este reafirmou a noite do dia 24 de Dezembro do ano de 754 da fundaçom de Roma, ficando finalmente consolidada essa data para toda a Idade Média, época de aceitaçom cega de toda afirmaçom proveniente da Hierarquia eclesiástica.

Mas chegou o Renascimento, e com ele as mentes humanas retomaram aquilo tam antigo, tam difícil e pouco utilizado nos últimos séculos como era o facto de pensar racionalmente e chegar a conclusões rigorosas. Foi Giusseppe Scalifero quem propus o nascimento de Jesus em Setembro ou Outubro mas Johannes Kepler uns anos mais tarde afirmou que Jesus de Nazaré deveu nascer no momento em que se produziu umha grande conjunçom planetária: a “Coniunctio Magna” ou “. Grande Conjunçom” que se repete aproximadamente cada 250 anos. Isso seria o que se passou a história como a “estrela” de Belém.

Sublinhamos que esta palavra: “estrela”, pode ser perfeitamente umha má traduçom da palavra latina que designa em linguagem astronómica/astrológica da época umha grande conjunçom planetária: “Stellium” (que nom Stella-Stellae) e que aconteceu no mês de Março do ano 7 antes de Cristo (o paradoxo de “...antes de Cristo” é quando menos interessante!).

Mais afirmações chegam a nos dizer que a estrela de Belém poderia ser um cometa, mas o único que parece ter passado por aquelas datas deve ser o Halley em 11 a de C. Porém, se nos cingimos ao que dizem Sam Lucas e Sam Mateu...: (Lc.1,5) “Em tempos de Herodes, rei de Judeia...” e (Mt. 2,1) “Depois de nascer Jesus em Belém de Judeia, em tempos do rei Herodes...” vemos que Herodes o Grande governava o país quando nasceu Jesus, e sabemos que esse famoso rei morreu em 4 a de C. com o que já temos um limite cronológico.

O outro limite podemo-lo encontrar em (LC. 2,1): “Aconteceu que por aqueles dias saiu um decreto de César Augusto para que se figesse um censo do mundo inteiro. Este primeiro censo tivo lugar enquanto Cirínio era governador de Síria e todos iam empadroar-se cada um na sua cidade. Também José, por ser da casa e família de Dadive, subiu desde Galileia, da cidade de Nazaré até Judeia, a cidade de Dadive que se chamava Belém, para empadroar-se com Maria, a sua mulher que estava grávida. E enquanto estava lá chegou-lhe a ela o tempo do alumbramento e tivo o seu primogénito, embalou-o nos cueiros e deitou-o num presépio por nom haver lugar para eles na pousada”

Temos já o outro limite temporal pois sabemos que o censo do que fala Lucas foi o que ordenou fazer Públius Sulpícius Cirinus no ano 7 segundo a crónica de Flávius Josephus. Isto faz com que possivelmente Kepler seja o que mais se acerca a dataçom do nascimento de Jesus, do nosso ponto de vista.

Aliás, poderia ser que o antes dito “Stellium” quisesse ser visto “in situ” polos cientistas daquela época, isto é, polos astrónomos/astrólogos da Mesopotâmia berço e paraíso da astrologia. Esses seriam os Reis... Magos!, segundo a terminologia quiçá mais adequada, os quais sabiam que sob o céu da Palestina ia acontecer a Grande Conjunçom da que estamos a falar.

Para completarmos a ideia, Sam Ignácio de Antióquia na sua Epistola aos Eféssios no século II diz: “A luz da “estrela” (“ Lux Stellium” no texto latino) superava qualquer outra cousa, o seu relustro era insuperável e a sua novidade fazia com que quem a observasse ficasse mudo polo arroubo. O Sol e a Lua e outros astros formavam coro da “estrela (“Chorum Stellium” no texto latino)”.

Lá polo ano 1998 fizemos pessoalmente o esforço de investigar a posiçom dos astros no mês de Março do ano 7 a de C. e podemos garantir que o dia primeiro desse mês havia no céu umha Grande Conjunçom ou Stellium -na linguagem astrológica- na Constelaçom dos Peixes: O Sol e a Lua em Conjunçom perfeita no grau 8º; Júpiter e Urano (este último nom visível e também nom conhecido na altura) no grau 2º; Vénus no grau 18º e Saturno no grau 10º. O mais provável é que o nascimento se produzisse justo pouco antes, durante ou muito pouco depois do Orto, momento em que a visibilidade dos planetas é possível. Posteriormente nom poderia ser pola luminosidade do Sol , o qual, junto com a Lua se veriam como o “coro do Stellium” e a conjunçom entre ambos os luminares seria se nom perfeita, polo menos, quase.

A modo de conclusom diremos que finalmente nom importa tanto o dia do nascimento de Jesus de Nazaré como também nom importa o de Buda, Mafomé, Mitra, Kung Fu-Tsu ou outros. O realmente importante é a filosofia e a mensagem dos personagens importantes da humanidade, embora a festividade do final de Dezembro fosse um acto de sincretismo político-religioso da hierarquia católica em épocas medievais. O espírito do Natal, os presentes, as refeições familiares, os convites, a solidariedade com os mais desfavorecidos, os dias feriados, ... etc, já eram costume na época dos romanos quando celebravam as suas Saturnálias, os gregos a chegada do vinho novo em honra dos deuses, os celtas o nascimento do Sol com rituais druídicos que em muitos casos pervivem e florescem ainda hoje na maior parte da Europa, como o costume do visco de ano novo, etc... Simplesmente o cristianismo adoptou o que já existia com o fim de penetrar e estender-se nas sociedades da época para impor de forma mais sucedida uns determinados parâmetros morais, sociais, culturais e políticos que mesmo som o sustento e a base da civilizaçom ocidental de hoje.

Jomaba
Enviado por Jomaba em 23/11/2008
Reeditado em 02/12/2008
Código do texto: T1299194