Entre Jesus, crianças e possibilidades.

Estar com Jesus e ser Cristo em nosso cotidiano, em nossas histórias e vivências é, além de tudo, ser criança novamente, sim, adentrar no espírito pueril que um dia tivemos(se não, podemos e merecemos escolher resignificar o que somos hoje em dia).

Como é visto na parábola com Nicodemus e Jesus, no evangelho de João, o mestre diz ao grande fariseu que ele deve nascer novamente, não em um sentido literal, obstétrico, mas em uma dimensão espiritual, renascer do vento do espírito divino. Isto é, enxergar a realidade com outros olhos, seguir por um caminho diferente naquilo que passamos a existência inteira batendo na mesma tecla, na mesma forma de dialogarmos com as coisas. Sim, o admirado e respeitado Nicodemus possuía desconhecimento desses assuntos, mas todos nós não temos? Por qual motivo? Será que nos achamos tão detentores assim do conhecimento das coisas? Será que saber de mais não nos torna amargos e, consequentemente, acabamos que estando fora do reino de Deus, mas não porque Deus é mal ou seletivo, porém nós com nossas próprias escolhas acabamos que caindo em um poço cinza, este nos colocando em uma condição de difícil acesso ao outro, aos pequeninos de Jesus, à poesia, ao sensível, ao romance, à empatia com o diferente e aquele que não anda na nossa mesma direção, porque tudo isto é divino. Quando Jesus menciona sobre estes que não herdarão ao reino dos céus, não está sendo dito que Deus é mau ou excluirá, de forma alguma, a oportunidade de renascer é dada a todos e em todos os dias.

Esses olhos que os que renasceram espiritualmente usam para enxergar a vida são os olhos da criança, mas o que é ser criança? Criança se tornou tão banal nos nossos dias, não só o ser infantil, mas tudo que se refere ao infantil, por exemplo as brincadeiras, o jeito de ser, não aprendemos mais nada com elas, mas estas são herdeiras do reino de Deus, por que estamos então deixando-as de lado e até em alguns casos maltratando elas? Observe que estamos vivenciando (e já aconteceu no passado)) um período de enorme exploração infantil, abuso, estupros etc. Mas quando não a abusam fisicamente, descartamos simplesmente.

Lembro de uma professora que sempre me dizia que no periodo da infância dela, lá pelos anos 50, ela não poderia abrir a boca quando os adultos estavam falando, pois recebia uma punição quanto a isso (agressões físicas, castigos desnecessários e prolongados). Hoje, me lembrando desta história e associando ao meu conhecimento da parábola, eu fico perplexo, como podemos deixar de lado o ser interior das crianças? Suas possibilidades que todos os dias adentram, sua criatividade, seu modo contraditório de dialogar com a sociedade e com as coisas pertencentes a ela, por que deixamos de aprender com os pequeninos de Jesus? Aliás, todos nós um dia já fomos crianças, não é porque viramos adultos que deixamos nosso ser interior pueril guardado, além disso, a própria psicologia fala que quando avançamos na idade, na verdade a nossa criança interior nos acompanha juntos, nos traumas, nas relações, nas demandas, nos sentimentos que experimentamos ao longo da vida e nas situações.

É preciso aprender com a criança, pois assim ficamos ao lado de Jesus, ao lado de Deus. O amor e a espiritualidade não comporta os tolos e as pessoas de narizes grandes, pois o mais importante da existência é efêmero e pequeno, então quanto mais grande nos tornamos, mais chances é de pisarmos o que está abaixo de nós querendo ganhar vida, uma pequena flor no jardim, uma página de poesia jogada pelas ruas, um pedido de desculpas, uma dança, risos e piadas...

Destarte, ter a oportunidade de ser Jesus em existência é ser criança novamente, Jesus é criança e não vai bem com os medíocres e amargos de espírito. Ser criança é mil possibilidades, potência latente no coração, portanto, estar com Jesus é viver essas possibilidades também.

Gabriel Régis feijão
Enviado por Gabriel Régis feijão em 24/12/2023
Código do texto: T7961318
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