É Natal! Uhum, e daí?

Não me apetece essa época do ano e mais precisamente essa colaboração natalina.

Falsos moralistas e bons samaritanos acreditam na rendição e compaixão para com o próximo nessa data, quando na verdade deveriam ter utilizado os anteriores 365 dias e 6 horas, em prol da empreitada.

Dá uma certa impressão de "sale" ou "liquidação", rsssss, não importa,importa sim que votos de paz e amor, prosperidade e esperança, aproximam-se mais e mais da utopia, tal qual o é a crença em Papai Noel.

Não se trata exatamente de um vômito ou desabafo em letras, mas da realidade nua e crua... E cruel.

Natal. Que lindo. Árvores imensas campeãs em Guiness, grande merda, quando do outro lado o que se vê é um monte de favelas recheadas de armas, de crianças rodeadas por balas... Balas de revólver.

Lembro de um Natal há muitos verões passados, eu tinha lá meus 8 ou 9 anos, meu pai prosperara nos negócios naquele ano, havia feito uma espécie de promessa, sei lá, na qual prometera fazer saquinhos de doces para levar na Via Anhangüera para distribuir para as crianças.

Cara, foi cruel para mim e minhas irmãs, estávamos as três bonequinhas de porcelana no carro e vendo aquelas crianças maltrapilhas correndo em direção dos carros que paravam no acostamento para fazer a entrega das doações, alguns davam brinquedos, outros doces e roupas.

Uma criança nos deixou incrédulas, não bastando ganhar o que lhe fora dado, enfiou a mão pra dentro do carro, pegando um pacote imenso de balas de amendoim kids que havíamos levado para irmos colocando em outros saquinhos.

O pavor maior foi pelo sorriso prazeroso que nos voltou, como mostrando a vitória e a satisfação.

Choramos, eu bem me lembro, mas não só pela pobreza, pois também não éramos ricos, mas choramos pela dor em ver que a felicidade era pelo roubar e não pelo ganhar.

Talvez por essa cena do meu passado eu sinta essa aversão pelo Natal, tem certos fatos que nos marcam.

Gosto sim, da reunião em família, mas daquela família que aos trancos e barrancos sobreviveram as barreiras derrubadas por tempestades, por maremotos de doenças e problemas que seriam dignos de Aristóteles ou qualquer que seja o matemático e filósofo que estivesse interessado em resolvê-los.

Papai Noel... Mesmo sabendo da utopia que gira em torno dessa figura, olho pra minha sobrinha com ar tênue e sorriso esboçado e escancarado e falo que existe.

Seja lá qual será a figura de Papai Noel que ela terá no futuro, a imagem que eu tenho dele é a de meu pai... Ele foi o Papai Noel de crianças desconhecidas naquele natal.

Naquele mesmo há muitos verões passados.

SP 08/12/2005

HM Estork CCoelho
Enviado por HM Estork CCoelho em 09/12/2005
Código do texto: T83335