CAP. 7 - O CASAMENTO

(Continuação de Preparativos 2)

Os sinos tocaram a hora do ângelus. Quando terminou a última badalada, Batista muito sério entrou acompanhado do irmão. Terno azul marinho, camisa branca, gravata cinza prateada (que seu Deodato fez questão de dar o nó), meias e sapatos de bico fino pretos. O cabelo cor de mel revolto, rosto bem barbeado, olhos brilhantes, segurava com força o braço do irmão. Matias de terno cinza chumbo, camisa branca, sapatos, meias e gravata pretos. Cabelos como os do irmão, também revoltos e a barba insipiente dourando-lhe o rosto. Sorriso largo e olhos buliçosos olhando para todos. Sentados do lado direito do altar, Tota Medrado e a mulher que seriam junto com Matias, os padrinhos do noivo. Do lado esquerdo o Dr. Olavo, o farmacêutico e sua mulher que seriam as testemunhas da noiva. Do órgão fanhoso saíram as primeiras notas da Ave Maria no mesmo instante em que Batista chegava ao altar. Letícia vinha na frente, espalhando pétalas de rosas retiradas de uma cestinha de vime, logo atrás Celinha segurava uma almofadinha de veludo com as alianças. Alguns passos atrás encerrando o cortejo, Celeste de braços com o pai. Através do véu se via o sorriso sereno emoldurado pela pele muito branca e pelos cachos dos cabelos pretos e longos. Seu Louro vestia terno azul escuro e tinha o rosto banhado de lágrimas. Batista recebeu Celeste no pé do altar e seu Louro sentou no primeiro banco. Matias foi para junto dos tios e Letícia apoiou-se em seu braço. Padre Borba, com voz forte e pausada pronunciou as palavras rituais: Em nome do pai, do filho... todos riram muito quando o padre fez a pergunta protocolar:

- João Batista de Carvalho Neto, é de tua livre e espontânea vontade que recebes (o padre tomou fôlego e continuou) Celeste Maria da Penha Francisca Ignácia Leopoldina de Alcântara Beirão Vieira da Costa de Souza e Rodrigues?

Foi um momento de descontração em que Letícia aproveitou para encostar a cabeça no peito de Matias. O perfume inebriante daquela ninfa fez com que ele a envolvesse pelos ombros e beijasse sua face, tudo muito rápido, mas que não escapou do olhar vigilante do pai que mesmo a contra gosto, considerou que eles formavam um lindo par no frescor da adolescência. O padre encerrou a cerimônia com o “pode beijar a noiva” as mãos trêmulas de Batista que por pouco não derrubaram as alianças, precisaram ser ajudadas para erguer o véu e por puro erro de pontaria, beijaram-se na boca. A recepção foi no salão do bilhar do tio Tota Medrado. Praticamente toda cidade estava presente. Comida e bebida para todos. O primeiro pedaço do bolo foi para seu Louro que pela emoção e pelo sotaque bem mais carregado depois da visita a Portugal, o pouco que falava ninguém entendia. Dona Assunção não compareceu. A radiola de fichas do bilhar tocou até o clarear do dia. Todos dançaram muito principalmente Matias e Letícia que desde o altar não mais se largaram. Pouco depois da meia noite seu Deodato levou o casal, no carro da cooperativa, para o sítio onde dona Sebastiana os esperava com café quente e broas de milho.

(Continua em LUA DE MEL)

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Este texto foi produzido em linguagem coloquial, sem o cuidado com a forma culta da língua portuguesa. Procurei reproduzir da forma mais fiel possível a maneira de falar do povo pernambucano, nem sempre erudita, mas sem duvida, melodiosa.