CAP. 11 - A FUGA

(Continuação de SEGREDO REVELADO)

- Eu tenho medo que Matias não queira mais namorar comigo agora que sou mulher perdida...

- Que conversa feia é essa menina? Tudo há de se arranjar, seu Tota, quer dizer tio Tota foi lá em casa logo cedo para colocar esse caso a limpo.

- Quer dizer então que todo mundo já sabe? Perguntou Letícia encarando a amiga.

- Todo mundo não. Marcolino contou a tio Tota...

- Ah! Meu deus, se Marcolino sabe então todo mundo já sabe também. Você conhece Marcolino. Você sabe Celeste como ele é. Tem uma língua ferina desse tamanho, fala de todo mundo e o que não sabe, inventa. Daquele bilhar de seu Tota Medrado, saem histórias do arco da velha distribuídas por Marcolino. Agora é que eu estou desgraçada mesmo, estou na boca do povo.

- Não senhora. Você vem comigo. Daqui a pouco a gente volta para o sítio, pega Matias e vem com Batista e tio Tota resolver tudo com seu pai. Você vai casar antes que a história tome conta da rua toda.

Saíram pela porta dos fundos que dava para a outra rua, para não correrem o risco de seu Zé Maria ver o rosto inchado da filha.

- Só tem um jeito de resolver isso tia Maria. É Matias casar com Letícia. (Batista estava irredutível).

- Mas eles são muito jovens ainda, esse casamento não vai durar uma chuva sequer, não vai dar certo.

- São meninos para casar, mas para estarem fazendo safadeza não são. Ora tia, a senhora lembra como pai era. Eu sou igualzinho a ele. Comigo as coisas se resolvem por bem ou por mal, mas se resolve da maneira que tem que ser. Foi bom vocês terem chegado. Letícia vai casar dentro de um mês antes que o bucho apareça.

- Mas quem foi que disse que Letícia já está grávida?

- E quem garante que não esteja? Você sabe como são essas coisas Celeste. Quando começa errado vai errado até o fim e antes que essa história caia na boca do povo e o bucho apareça, eles já estarão casados. Por favor, Celeste vá ao sítio e traga Matias para a gente ir falar com seu Zé Maria. Deixe Letícia aqui.

A tia Maria chegou passando a escova no cabelo.

- Tota feche aqui o meu vestido. Eu vou com você Celeste.

Batista estava furioso com o comportamento do irmão e fumava um cigarro atrás do outro.

- Veja o senhor Tio Tota, no fim desse ano eu iria mandar Matias para o Recife ou para Campina Grande para estudar Veterinária ou Zootecnia. Eu queria que ele ficasse responsável pelo confinamento para não precisar mais pagar ao Dr. Manoel para assinar as guias. Agora o apressadinho vai ter que ficar com a mulher dele. Não vai mais para merda nenhuma. Não vai mais ser porcaria nenhuma. Vai ficar marcando passo pelo resto da vida, aqui, pisando em bosta de boi como eu.

- Mas eles podem ir. Ele e Letícia vão estudar...

- Vão estudar coisa nenhuma tia. Com pouco tempo vão se separar. Vão desgraçar a vida um do outro. Moça nova de interior, recém casada e só na cidade grande, só pode dar para o que não presta. Aqui debaixo dos meus olhos Matias fez o que fez, imagine ele solto numa cidade como Recife...

- Dona Sebastiana, cadê Matias?

- Está dando de comer aos bichos. Trouxe o leite e desde que vocês saíram que a forrageira não para.

- Mande chamar que ele vai conosco falar com o pai de Letícia.

Aproveitando a visita ao sítio, a tia Maria foi fazer uma inspeção pela casa e como de costume foi dando as instruções.

- Dona Sebastiana, tem muita roupa suja no quarto do casal... o quarto de hóspedes está que é poeira só... tem muitos potes com restos de comida na geladeira. É preciso aproveitar melhor essas sobras. Dá para fazer sopas deliciosas... eu acho um desperdício três tipos de bolos. Basta um de cada vez... esse tapete que Pirão dorme em cima tem que ser colocado ao sol pelo menos dia sim dia não porque se não fica um fedor triste... a tampa do pote tem que ficar amarrada com pano se não os bichos entram... é preciso mandar ajeitar a chaminé do fogão à lenha. A fumaça está manchando a caiação toda... eu fechei direito a torneira da pia da cozinha que estava danada pingando... aquele pano de prato está merecendo água sanitária para ver se alveja e tira o bodum de canto velho... o saco de coar café está pedindo outro faz tempo... panela de barro que dorme com resto de feijão sem água dentro é danada para ficar queimando comida... o caco de Pirão beber água está com muito lodo. Precisa lavar com escova ou então comprar um novo... o capacho da porta da cozinha está cheio de terra, precisa passar um vassourão nele... no banheiro social tem toalha entrouxada e um cagalhão deste tamanho que não desceu com a descarga que eu dei, precisa bater com vara de marmelo para ver se desmancha... Celeste minha filha, onde vocês arranjaram essa gatinha não tinha uma mais feia não? (risos)... o quarto de Matias está uma bagunça só. Todas as gavetas abertas...

- Está não senhora, eu já arrumei já hoje.

- Pois vá ver que bela arrumação a senhora fez...

- Ai, minha nossa senhora! Celeste minha menina eu acho que Matias fugiu. Ta faltando um monte de roupa dele...

Continua em A CAÇADA