Eu e Lice: Um mistério revelado (capítulo 13)
(Eu) Alguns dias se passaram e os pesadelos continuavam presentes nas noites de Lice. No quarto em que dormia, havia um homem gordo, escuro e maldoso, dois pais, um chamado Victor o outro Álvaro, uma avó com nome de flor, um velhinho apelidado de Tito, uma doutora, com nome de santa, e um cão, carinhosamente chamado de Zulu.
Durante toda noite, estes personagens inusitados se revezavam na mente de Lice. Ora era o homem mal com o cão, noutra seus pais, noutra a avó com Tito, e assim por diante. A noite, sem considerações, não era um momento tão tranquilo.
Os dias eram aparentemente tranquilos e repetitivos. Lice tomava café da manhã por volta dás 09:00, mas, quando as visitas noturnas eram mais frequentes, acordava ás 04:00 e desperta passava todo o dia. A menina almoçava e ia procurar Tito. Ás vezes o encontrava em meio ao gado, ás vezes em sua casa, e em outras, conversando misteriosamente com Rosa.
Num dia, o mistério se revelou.
(Lice)
- Lice, você sabe o que acontece daqui três dias? - perguntou vovó assim que comecei a tomar café da manhã. Não lembrava ao certo. Antes de arriscar algo, ela mesma respondeu.
- É seu aniversário, meu amor! Você completará seus dez aninhos!
- É verdade, vovó! Não estava nem pensando nisso.
- Pois então, a vovó estava, e seu Tito também! Ligue para coleguinhas seus, para quem quiser e convide todo mundo para uma festança que faremos aqui especialmente para ti. Já falei com a Doutora Luzia.
- O que a senhora vai fazer? - fiquei curiosa. Nesta hora, me lembrei da festa que fazia com meus pais, pena que eles não viriam.
- É segredo! Deixe de ser ansiosa mocinha!
Um tempo passou, eu terminei de tomar meu suco de maracujá em um só gole e saí.
(Eu) Lice se animou. Ligou para alguns colegas de escola, que, por todos os acontecidos, estavam distantes; falou com Cássio, seu professor predileto, almoçou, e depois foi conversar com Tito.
(Lice)
- Seu Tito, o senhor já sabia que minha vó ia fazer meu aniversário?
- Sabia sim, mocinha. - era isso que eles falavam escondido!
- E por que nunca me disse? - já sabia a resposta, mas...
- Porque tem coisas que de surpresa é melhor. Não queria que sua vó te contasse hoje. Queria que esperasse para o dia certo, para ser festa surpresa.
Fiz silêncio e depois de um tempinho, Seu Tito voltou a falar.
- Lice, quem você já convidou?
- Chamei umas colegas de minha... - fiquei indecisa em falar... não sabia se diria "escola" ou "ex-escola" - escola - tomei coragem e disse - e chamei o professor Cássio também.
- Quem é este menina?
- Era meu professor de arte.
- Por que só chamou ele de seus professores?
- Não sei.... ele era o mais legal de todos. - Seu Tito riu.
(Eu) Por lá, falando de assuntos diversos, jogando conversa fora, Lice permaneceu até o fim da tarde.
Pela noite, as visitas voltaram, mas agora, de uma forma diferente.