O PROFESSOR É UM PERIGO PARA O MUNDO (II)

Na sala de aula, o professor Pascoal dava um tempo em sua grade curricular de sociologia para levar para seus alunos um pouco das acepções que ele sustentava, algumas embasadas em suas próprias descobertas.

– Engenharia social, caros alunos, todas as sociedades passam por isso. É a razão de haver tanta uniformidade de pensamentos, de costumes, de decisões, de preocupações, de medo. E a forma de se engenhar essas coisas sempre foi por meio da mídia. Antigamente, quando não havia imprensa e a informação era levada por meio do boca a boca, a inteligência coletiva é que cuidava de uniformizar as mentes. Acontecia muito o que brincamos de chamar de "telefone sem fio" e algo que saía de uma ponta como "cadeira" chegava em outra como "caveira". E assim se deu até a semântica das palavras e é o motivo de algumas pessoas em regiões diferentes chamarem as mesmas coisas utilizando nomes distintos e às vezes antônimos.

O professor havia começado seu discurso com o que ocupava-se de dizer em sua filosofia o francês Pierre Levy.

– Hoje temos o formato multimeio sendo usado pelos veículos de comunicação para formar a inteligência coletiva. Corrompe mais a mente das pessoas o estímulo de vários sentidos para a impregnação de uma informação. As opiniões são moldadas agora, ainda em primeira linha pela televisão. É um invento nazista, por isso não é de se admirar o quão nazista é o que propaga a televisão. Os demais multimeios vêm logo depois. E a tática de engenharia social é segmentada. Acontece muito a formação de grupos. Grupos de religiosos, de cor, de orientação sexual, de classe social. Cada grupo desses recebe formidavelmente da televisão as suas características, o que deve ser defendido e o que deve ser combatido. Também os heróis, os inimigos. Midiaticamente são criados para cada grupo seus agregados e seus opositores. E também o choque entre eles.

Pascoal dizia para sua audiência que dos choques provocados pelo sistema controlador dos grupos nasciam coisas como o consumo, os fenômenos sociais que alimentam os serviços desempenhados dentro da sociedade e, o principal de tudo, a eleição dos candidatos que concorrem aos principais postos políticos da nação. O candidato eleito é sempre aquele que ganha a simpatia dos integrantes do maior grupo ou da maior quantidade de grupos possível. De modo que se todos os concorrentes a um cargo eletivo, portadores desse conhecimento, discursarem uniformemente, buscando a simpatia dos membros de todos os grupos ou do grupo maior, tramas marqueteiras passam a serem necessárias. A ideia dessas tramas é derrubar os argumentos de um opositor derrubando a imagem dele.

E é aí que se encontram os casos que são, na verdade, frutos das armadilhas que os políticos ou partidos lançam uns nos outros. Às vezes boatos que partem de uma origem anônima, boa parte desses boatos sendo mentiras, e às vezes arapucas armadas e bem sucedidas, é que formam a opinião do eleitor e decidem uma eleição. Nunca o que deveria ser o certo: cada candidato apresentar projetos e um passado comprovável de servidão à sociedade e que inspire confiança, é o que é preservado pelos meios que influenciam a decisão e o que é levado em conta pelo eleitor, talvez, até, por este não saber que haja um controle para que ele não tome o procedimento correto para fazer sua escolha. Debates presidenciais ou propagandas políticas na televisão, estatística de institutos de pesquisas são os piores meios de consulta para o tal propósito, conforme pensa o professor Pascoal. Fazem da candidatura um evento jocoso e que pode ser disputado com táticas teatrais ou gráficos de desempenho típicos de competições esportivas ou carnavalescas. Deveria ser proibido o uso da tevê e desses institutos para o fim de promover campanhas eleitorais, mas mexeria no lucro que instituições ganham em tendo sido já assimilado dessa forma o ensejo. Nenhum grupo de comunicação ou instituto de pesquisa quer perder sua boquinha para garantir sua existência inútil.

E o palestrante deu exemplos de casos que remetem aos tipos de armadilhas que se vê nessa guerra. É o candidato que é envolvido em uma situação de racismo, no qual ele é transformado no protagonista ou em um defensor do ofensor, o que faz com que ele perca os votos da comunidade negra. É um caso parecido para ludibriar a comunidade LGBT ou evangélica. E o contrário também acontece: se vê bastante político tomar café na casa de um favelado ou carregar crianças negras de frente para as câmeras e criar para si uma associação com os públicos que se relacionam com as aparições. "É engraçado como toda vez que inserem um candidato em um escândalo ele é colocado como racista, homofóbico, anti-cristão ou outra baboseira biônica dessas", sugeriu a reflexão para seus ouvintes o professor.

E para fechar a primeira parte da palestra, o professor falou sobre a engenharia social promovida pelas telenovelas. O que se vê em discussão em uma telenovela, principalmente as exibidas no horário considerado nobre, se vê refletir na realidade social. E os argumentos que usam os entes que forem captados pela mídia são os mesmos que são doutrinados na teledramaturgia. Tanto os argumentos condescendentes quanto os marginalizados. A tevê não quer saber de criar apenas mansidão no telespectador, mas também incitá-lo a cometer crimes e causar distúrbios sociais. É esse reflexo que conserva o capital dos que investem na programação dela. Ou seja: os que geram receita para os inúteis veículos de comunicação.

Mais tarde o professor falaria do problema que os celulares estão causando para o planeta. Acompanhe o conto!

LEIA A PARTE I: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/4998630