O andarilho. O lobo do Norte. parte 2

As criaturas portavam laminas grandes, como espadas e machados, todos feitos de uma forma bastante barbara, mas igualmente perigosas. Não se atreveria a tentar nada, até porque seu corpo não seria capaz de dar a resposta que ele estava acostumado. Algo ali o impedia de ser o que sempre foi. O andarilho pensou no que o oráculo havia lhe dito, de que haviam duas pessoas que conseguiam criar seus próprios sonhos, e se estava agora dentro do sonho de um deles é provável que não teria a mesma habilidade de antes. As regras daquele lugar eram diferentes. Mas ele não sabia explicar como aquilo funcionava, somente que as coisas eram assim, teria que se adaptar. Ele precisava encontrar o caçador. Assim que as criaturas desceram de suas montarias, empunharam seus machados e se aproximaram dele. Por último, um outro, bem maior veio em sua direção. Esse não desceu, veio trotando lentamente com seu cavalo negro, bem de mansinho e seu ar de superioridade dava a entender que ele era o líder do bando:

- O que faz um humano no território dos Orcs?

Orcs? Mas o que seriam Orcs, pensou o andarilho. Nunca tinha ouvido falar disso. E se tinha, não se lembrava. Tentou mostrar a eles que estava só de passagem, e que não representava nenhuma ameaça. Não iria falar nada sobre caçador, muito menos sobre a maleta. Teria que ser inteligente agora, se fizer qualquer movimento brusco poderia intimida-los e seria seu fim:

-Desculpe, eu errei o caminho. Eu estou apenas perdido.

Um daqueles que estavam no chão, demonstrava estar mais nervoso do que o que estava em cima do cavalo, tentou intimidar o andarilho:

-Humano mentiroso. Veio aqui para roubar ou matar. É só o que os humanos sabem fazer....

-Cale-se Grabur, deixe o humano falar. O que faz aqui humano, seu povo foi banido para floresta a muito tempo?!

A criatura montada interrompeu a que estava no chão, mostrando ser mesmo o líder do grupo. Teria uma chance de se explicar, mas teria que tomar cuidado com o que iria dizer:

-Desculpe eu não sou daqui, venho de longe. Eu não fazia ideia eu juro. Eu também não sei quem são vocês. Eu nunca vi um lugar assim. Eu nem sei que lugar é esse.

-Hum.... Ou você é muito inteligente, ou é muito burro. Se for o caso, saiba que está em Winterhall, e aqui os orcs mandam. Os humanos foram banidos por ajudarem os Elfos na grande guerra. Eles foram derrotados e os poucos sobreviventes foram enviados as florestas a oeste da cidade. Se você não veio de lá, de onde você veio?

-De um lugar distante, onde tudo é deserto.

-Sei, deserto...

O Orc então olhou diretamente para a maleta que estava na mão direita do andarilho, e perguntou:

-E isso. O que é isso que carrega.

O andarilho tentou desviar do assunto:

-Nada. É só uma mala, um objeto que uso para guardar coisas, mas está vazia agora.

-Guardar coisas, sei... Me parece útil, me entregue e deixarei você ir.

-Desculpe mas é de família, não posso me desfazer assim disso. Mas eu tenho outras coisas, veja um relógio. Ele é usado para ver as horas, sabe o tempo...

O andarilho percebeu que o Orc não gostava de receber um não. A criatura bufou e olhou com um olhar de ódio a ele, em seguida fez sinal com a cabeça e um dos que estavam no chão golpeou o andarilho com o machado fazendo-o apagar imediatamente. Enquanto estava inconsciente o Andarilho sonhou.

No sonho ele estava de volta a lanchonete, e em frente a ele o oraculo.

- Então você o encontrou? Encontrou o caçador?

- Desculpe eu falhei. Acho que estou morto agora.

O oráculo pareceu curioso:

- Porque acha que está morto?

-Isso é o outro mundo não? O que está além, o paraíso.

-Isso se parece com o paraíso pra você?

-Não, tá mais pra, o limbo.

O oráculo estranhou. Como o andarilho saberia o que era o limbo:

-Ha ha, você é engraçado, limbo.... Como sabe o que é o limbo?

-Eu não sei, eu só. Tenho vaga lembrança. Então eu não estou morto?

-De certa forma, está.

-Então?

-Você se esquece de que isso é um sonho. Seu sonho.

-Sim, mas, também é o sonho do caçador...

-Não importa, veja mesmo sendo o sonho do caçador, sempre que você morrer você terá uma segunda chance. A chance de voltar.

-Então eu posso morrer quantas vezes eu quiser.

- Não. Eu disse segunda chance, não terceira ou quarta.

-Não entendo...

-Eu explico, afinal de contas é pra isso que estou aqui. Você estava no mundo do Caçador quando morreu. Ou seja, o andarilho não pertencia aquele mundo. Mas agora o andarilho está morto. Pelo menos o corpo dele. Assim que você retornar fará parte do mundo do caçador. Assim verá que seu corpo lhe obedecerá como de costume, porém suas habilidades irão mudar.

O andarilho olhou assustado. Morto? Ele estava morto. Continuou:

- E o que eu vou ser agora.

-Você verá. Só não se esqueça, você não terá uma segunda chance. Morra novamente e será o fim.

Assim que o oráculo terminou tudo escureceu de vez, em seguida, começou a ouvir uma voz:

Acorde, acorde Duim. Acorde....

Abriu os olhos e viu uma mulher.