A CIDADE DO TERROR capítulo 4: A Rede

 

CAPÍTULO 4

 

 

A REDE

 

(No episódio anterior encontramos Cindy, Celeste, Eliana e Rosa reunidas numa leiteria, discutindo os grandes acontecimentos que elas haviam testemunhado, quando da tentativa de sequestro da cantora Gipsy Green e como o Prefeito Caetano Coutinho, contra o próprio testemunho da artista, colocara a culpa na vigilante misteriosa Centelha Negra. No entanto, Gipsy Green fôra salva pela Centelha Negra. O repórter Virgil Limusine buscava repor a verdade para a opinião pública. Celeste e Rosa acreditam que Eliana seja a Centelha Negra, porém esta nega.)

 

 

Celeste, a dos cabelos castanhos, cor de crina de cavalo, parecia disposta a esmiuçar os fatos:

— Naquela noite foi tudo tão confuso... eu me vi separada de vocês...

— Aconteceu com todas nós — disse Cindy.

O celular de Cindy tocou.

— Oi, mamãe. Eu estou aqui na Leiteria Cosmos com as meninas. .. ah, a Celeste, a Rosa e a Eliana...

— .....

— Tá, não se preocupe. Se fosse assim a gente não saía mais à rua...

— .....

— Eu sei que eu não sou a Sailor Vênus. Bem que eu queria! Mas você também não é a Supermãe, tá bom? Depois a gente fala.

— .....

— Tá bem. Um beijo.

Ela desligou o aparelho e olhou para as outras, embaraçada.

— Era a minha mãe.

— Nós notamos — respondeu Rosa, entediada.

— Eu gosto muito da Gipsy Green — disse Eliana. — Quis até socorrê-la, corri na direção dela...

— Acho que você a socorreu.

— Não, Rosa. Sem essa. Eu não sou a Centelha Negra. Não deve ser nenhuma de nós, quem sabe outra pessoa olhou o monolito...

Rosa olhou o relógio-celular de pulso:

— Às oito horas tenho que estar com o Johnny. Acho que estou me apaixonando, sabem?

— Todas nós temos namorados agora — observou Celeste, servindo-se de batatas fritas. — E éramos tão tímidas antes do monolito...

— Honestamente — disse Cindy — vocês já pararam para pensar em como o Rio de Janeiro anda estranho? Padres, freiras e pastores protestantes... rabinos também... estão sendo assassinados. O Prefeito mente descaradamente e mantém, à parte da polícia, uma milícia especial violentíssima... e nem por isso o crime diminui. Crimes medonhos, com aspectos de magia negra, estão se sucedendo. E correm histórias estranhas sobre o que se passa lá por cima, nos tirantes e cabos da Cidade Superior... estranhas atividades. O que está havendo com essa cidade?

Rosa fitou-a com assombro:

— Como é que você sabe tudo isso?

— Você não é uma alienada, é, Rosa? Não acompanha as notícias?

— Estão matando padres?

— Já seis foram assassinados. Puxa, estão havendo coisas...

— E a Centelha? Como ela pôde surgir tão de repente, para proteger Gipsy Green?

— Certamente ela tem seus meios — disse Celeste.

— Sabem — disse Eliana — talvez devêssemos voltar lá.

Cindy admirou-se: — Retornar ao monolito? Não, Eliana, eu não volto lá. Nós tivemos o suficiente!

— Talvez eu devesse levar o Mário... e você, o Gilson...

— Partilhar com os nossos namorados... se isso fosse mais fácil eu até faria... mas quem falou a você que uma segunda dose não vai nos fazer mal?

— Eu quero propor uma coisa a vocês... uma pesquisa.

— O que? Vai querer nos meter em encrencas? — protestou Rosa.

— Vejam só. Lá do meu apartamento eu comecei uma série de observações, com luz polarizada, lá da Teia de Energia. Registrei o que várias pessoas denunciaram: falhas no fluxo de luz, lampejos escuros... se assim podemos nos expressar... a Energ-Rio nega que haja problemas no sistema, porém as estatísticas de crimes sexuais, espancamentos de esposas, acessos de fúria destruidora em pessoas pacíficas... aumentam exageradamente num prazo de 24 horas após cada ocorrência significativa de hiato fluxial. Parece que a multi-energia perturba o cérebro humano e até dos animais, como se nessa ocasião uma energia estranha, de natureza psíquica, penetrasse no sistema.

Cindy olhou-a muito séria.

— Você crê isso? Seria algo muito grave, pois toda a população estaria exposta. E porque isso pararia no Rio?

— Esperem aí — observou Celeste, enquanto mastigava. — Se isso for verdade, não seria obra do acaso. Haveria uma inteligência por trás disso.

— Uma inteligência maligna — completou Cindy.

Eliana lembrou: — Nós podemos penetrar no sistema e ver o que está havendo.

— Mas como? — indagou Rosa. — Bem, você deve saber, já que é a Centelha...

Desta vez Eliana ignorou a observação:

— Com a minha facilidade em clonar chaves e cartões... também tenho gente da família no sistema.

— Há qualquer coisa errada em toda essa história — opinou Celeste. — A Centelha Negra não deveria precisar desses subterfúgios para penetrar no sistema.

— Eu não sou a Centelha Negra, sua idiota.

— Schiu! — Rosa fez um gesto de discrição. — Aquele chato está chegando de novo!

— Oi! O Clube da Luluzinha novamente reunido?

— Torradas de Petrópolis — riu-se Cindy. — É útil para aguçar a inteligência. Quer participar?

Eleutério puxou uma cadeira.

— Com prazer, já que os queridos namorados não estão...

“Que sujeito chato”, pensaram as quatro.

 

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Enquanto isso, numa luxuosa alcova de magiplast, desenrolava-se uma cena curiosa.

Um homem de compleição sólida, de aspecto bastante ariano, sentado junto a uma escrivaninha dotada de hologramógrafo dedicava-se a manipulações no holograma colorido do Rio de Janeiro, onde se destacava a simulação da Rede Superior, bem como das imensas torres.

Na cama de lençol cor-de-rosa uma mulher ainda nova, loura, deitada de barriga para cima e seminua,

tinha os braços esticados para além da cabeça, e algemados nos espaldares.

— Caetano... vai ficar mexendo nisso por muito tempo? Não pode me soltar?

— Nós vamos transar daqui a pouco. Aguente firme — e o homem continuou manipulando o controle, fazendo uma linha arroxeada espraiar-se pelos capilares do sistema.

— Eu estou cansada!

— O seu problema, Vanessa, é que você não se interessa pelos assuntos transcendentais. Você vive o presente, o dia-a-dia, e é só isso. Nesse momento você só quer prazer. Não entende a importância das minhas pesquisas.

— Eu tenho um pouco de medo delas... esse seu livro, o Necronomicon... eu tentei lê-lo, mas não dá...

— Você sabe o que nós vamos fazer. Vamos sobrecarregar a Rede com FEP’s (*) à razão de dois trilhões de amorins/seg. Numa primeira instância sugamos a energia em bruto dos seres humanos e as malignizamos com os ritos do Necronomicon. Depois alimentamos a Rede até que esta atinja o seu ponto de saturação. A população do Rio será nossa escrava e então teremos uma cabeça-de-ponte excelente para que o mundo inteiro seja dominado pelos Grandes Antigos.

Vanessa mexeu inutilmente com os pulsos algemados:

— Eu fico assustada, Caetano... e se matarem você, o que será de mim?

— Cale-se! Você faz pouco em mim!

Com o bastão de controle o prefeito trouxe o holograma do Rio mais para perto da prisioneira, flutuando no ar a um metro e setenta do chão. A figura começou a se transformar, como se ao mesmo tempo encolhesse e esticasse. O diagrama da cidade foi dando lugar a uma visão mais abrangente. Foram aparecendo os contornos do Brasil, da América do Sul, e por fim do mundo inteiro. A faixa roxa ia se assenhoreando de toda a rede energética mundial, cada vez mais dominada pelos fluxos de energia psíquica. Por fim, enquanto o globo terrestre girava no ar, círculos azuis se formaram, destacando dois lugares, que pareciam alvos para o assédio das FEP’s:

— O Vaticano! — exclamou Vanessa.

— Isso mesmo. Talvez lá haja resistência ao ataque psíquico. Entretanto, o Papa pode ser eliminado fisicamente, com todo o seu séquito. E isso é relativamente fácil.

— Se meu plano der certo... se for possível estabelecer solidamente uma cabeça-de-ponte da rede energética do Rio, então a nossa cidade dará início à reconquista do mundo pelos Grandes Antigos. Pela REM (**) a energia maligna rodeará a Terra num abrir e fechar de olhos, seduzindo toda a humanidade, e chegará enfim o dia em que um lugar, um único, será ainda obstáculo às nossas ambições: a Tóquio de Cristal.

Vanessa pareceu alarmada:

— Em que você está se metendo, querido? Enfrentar a Tóquio de Cristal... as marinheiras-guerreiras... o cristal de prata...

— Basta! Você acha que aquelas guerreiras idiotas poderão resistir a um ataque sincronizado das forças das trevas? Darão algum trabalho, sim... mas, no final, a Tóquio de Cristal também cairá.

 

 

(*) Fluxos de energia psíquica (N. do A)

(**) Rede Energética Mundial (idem)

 

O que poderá estar acontecendo nas alturas do Rio de Janeiro do século 30, na imensa Torre de Energia? As garotas ainda não sabem. Mas o Espectro, ou seja, o Prefeito Caetano Coutinho, revelou o plano maligno a sua relutante esposa. A contaminação de toda a Rede Energética Mundial, a REM, por energia maligna proveniente das invocações do Necronomicon, o Livro dos Nomes Mortos, que podem abrir as portas do nosso universo à invasão das forças das trevas. O macabro plano do Espectro visa inclusive atacar a Tóquio de Cristal, cercando-a de energia maligna, para matar Sailor Moon e suas companheiras.

Entretanto, Eliana convenceu suas amigas a realizaram nova incursão secreta ao Museu Espacial, para tentarem esclarecer os fatos imvestigando o mesmo monolito que mudou as suas vidas com aptidões inusitadas.

Leiam em breve nesta escrivaninha:

 

CAPÍTULO 5

 

A QUESTÃO DO FUTURO

 

 

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Esta novela é uma fanfic cruzada nos universos ficcionais de Sailor Moon (Naoko Takeushi, Japão) e Necronomicon (H.P. Lovecraft, Estados Unidos)

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 11/10/2023
Código do texto: T7905873
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