A Saga de Godofredo Parte III – Sanssouci

02.02.24

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Os aparelhos na sala da UTI se aquietaram, com Godofredo respirando tranquilamente. Janice e os demais estavam atônitos e curiosos de como escapou da execução. O sistema computacional ainda rodava, com as telas do computador e da sala escuras, apresentando em alguns momentos, pontos brilhantes. Janice, de olhos molhados, tentou manter contato com ele, falando através do microfone:

-Meu amor, está tudo bem? – ouvindo-se somente um chiado.

-O quê que será que aconteceu? - perguntou ela a todos no quarto da UTI.

-Não podemos saber Janice, mas ele está vivo e é o que importa. Os monitores mostram que seus sinais vitais continuam normais – respondeu o médico neurologista que acompanhava Godofredo.

- Sete, seis... - Godofredo ouvia a multidão contar regressivamente, olhando para o cesto em que cairia sua cabeça, após ser guilhotinado. Num milésimo de segundo escutou na sua consciência a voz de Cons.:

- Pense em parente direto que viveu mais perto do século vinte, rápido!

Godofredo então lembrou do seu avô materno, alemão, pois ele não o conheceu e nada sabia da sua vida. Sua mãe pouco falava sobre ele. A contagem seguia:

- Cinco, quatro... - Godofredo pensou no antepassado que fora guarda Imperial no castelo de Sanssouci em Potsdam. Instantaneamente ele sumiu do cadafalso da guilhotina, que desceu inapelável e velozmente cortando o nada, fincando sua terrível lâmina na madeira. A multidão boquiaberta e estática com o que via, começou a gritar:

- Bruxo, bruxo! Queimem a guilhotina!

La Fayette também não acreditou no que presenciou. Permaneceu parado como uma estátua por longo tempo, olhando fixamente para o suporte vazio em que estava Godofredo há poucos minutos. Depois, ordenou ao oficial que queimasse a guilhotina.

Godofredo acordou do seu susto em um campo verdejante e arborizado, como um parque. Cons. estava ao seu lado. Vestia uma roupa engraçada: calça curta em couro marrom com suspensórios, mostrando a exuberância da sua barriga; camisa branca de botões; meias brancas até os joelhos; sapatos e um chapeuzinho de feltro. Estava em pé ao lado de Godofredo e o encarava com seu riso curto em seu rosto redondo. Uma figura e tanto!

-Que bom que pensou em seu avô alemão. Estamos na Alemanha , mais exatamente em Brandemburgo em 1902, próximo ao castelo de Sansosuci, local do seu pensamento e que o tirou da guilhotina de La Fayette.

-Obrigado por me ajudar a fugir da guilhotina – disse Godofredo levantando-se do terreno. Ele lhe disse animado:

-Pronto para novas emoções com seu avô alemão?

-Sim, estou! Mas por que me disse para pensar em alguém mais perto do século vinte?

-Quanto mais perto da época em que vive será melhor para você, confie em mim. Não posso lhe dizer o motivo. Hoje é domingo e você está de licença, indo passear em lago aqui próximo. Agora é o valete do seu avô materno, Erick, no castelo de Sanssouci do Kaiser Guilherme II. Era da guarda pessoal no castelo.

-Sim eu sei desta história. Minha mãe contava que ele saiu de casa por não concordar com o novo casamento do seu pai, após a morte da sua mãe, alistando-se na guarda imperial aos vinte anos. Era ótimo atirador com pistola, tinha um metro e oitenta e quatro, olhos azuis e cabelos loiros, ariano puro! Mas, por não ser nobre, não pôde seguir a carreira militar.

-Sim, perfeito. Ele está com vinte e dois anos e vocês têm uma grande amizade, solidificada nestes dois anos de convivência, sendo você um confidente dele, pois lhe conta seus problemas. Seu nome, Godofredo, em alemão é Gottfried. Eu não me transformarei mais em uma pessoa nesta empreitada, mas estarei em sua mente lhe ajudando, como sempre. Não contará mais com os meus dotes especiais, mas poderá se transportar para outras épocas para acompanhá-lo, ou não, pensando em qual local ele estará. Não poderá ter contato com sua mãe quando ela nascer. Vamos voltar ao encontro dele no castelo, já é hora. Vou me incorporar a sua mente.

Cons. começou a se desvanecer em uma nuvem fulgurante e brilhante como uma estrela, introduzindo-se suavemente na mente de Godofredo, agora Gottfried, até desparecer totalmente. Então, ouviu em seu cérebro a voz estridente e fina dele:

-Vamos ao castelo!

Gottfried caminhou intuitivamente pela mata parecendo conhecê-la, chegando a uma esplanada onde no alto de uma colina estava o imenso castelo do Kaiser, indo ao encontro do seu avô. Estava ansioso e curioso para saber com o seria ele

Nota do Autor:

Obra ficcional, e qualquer semelhança é mera coincidência

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 07/02/2024
Reeditado em 07/02/2024
Código do texto: T7993946
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