Contemplação

 

Frágeis, somos muito frágeis.

 

A aposentadoria precoce me deu a oportunidade de observar melhor os acontecimentos a meu redor. Antes, eu ficava restrito ao meu mundinho e pensava que eu era um grande sabichão e que o poder que eu tinha era inabalável. Quanta presunção.

 

Logo depois da aposentadoria nasceu minha neta e acompanhei o desenrolar do seu crescimento praticamente todos os dias. No princípio ela dependia de seus pais para tudo, nem chorar direito ela sabia. Dependia da mãe para mamar, para se vestir, para trocar as suas fraldas, dar banhos, calçar os seus sapatinhos, tomar as vacinas e os remédios e até mesmo para arrotar depois de cada mamada.

 

Nessa época, minha tia com 87 anos de idade, passava pelo mesmo calvário na outra ponta da vida. Com a lucidez comprometida ela dependia da filha para tudo. Não falava mais coisa com coisa, andava apoiada nas pessoas, precisava de alguém para lhe dar comida na boca, para tomar banho, para trocar as fraldas geriátricas que usava e para tomar os seus remédios corretamente.

 

Passei a observar e a comparar a evolução das duas. Todo mês os pais levavam a minha neta no pediatra e voltavam com uma receita enorme de orientações e remédios a serem administrados. Todo mês a minha prima levava a minha tia no geriatra e voltava com uma receita enorme de orientações, remédios e vitaminas a serem aplicadas.

 

A diferença entre as duas é que uma estava se preparando para assumir as rédeas desse mundo e a outra já cansada da longa caminhada, entregava para a filha as rédeas da vida. A diferença é que enquanto uma ficava cada dia mais independente, a outra, ao contrário, ficava cada vez mais dependente e é nesse momento que entra a generosidade dos filhos.

 

Não percebemos, mas quando somos adultos e os filhos chegam, o carinho e o amor que dedicamos para eles deverá ser o mesmo que dedicaremos aos nossos pais quando eles chegarem a 3a idade. Se você pensa que há diferenças, engano seu. São exatamente iguais, só que em idades diferentes da vida. É só essa a diferença. A responsabilidade é a mesma.

 

As vezes você precisa ser enérgico com o seu filho para ele tomar banho ou escovar os dentes ou ir para a escola. Prepare-se porque certamente você se surpreenderá tendo que agir da mesma forma com o seu pai ou a sua mãe quando eles estiverem com idade avançada. Nos dois casos tudo dependerá de você e do seu AMOR.

 

Tenha pelos seus pais o mesmo carinho e o mesmo amor que você tem para com os seus filhos. E que tudo isso fique bem claro na sua retina, agradeça a Deus por fazer de você um bom pai ou uma boa mãe da mesma forma que um dia fará de você uma grande filha ou um grande filho. E não se esqueça que muito em breve você também estará passando por esse mesmo calvário, novamente.

 

Você já foi um bebe, agora é um adulto, mas em pouco tempo será um idoso na reta final para voltar para a casa do pai. E certamente dependerá do amor e dos cuidados de seus filhos ou netos. A espiral da vida continua. É um circulo, um vai e vem constante. Mas só funciona regado a amor, muito amor e paciência.

 

Repare que nas duas pontas da vida nós somos imensamente frágeis. De todos os animais somos o que por mais tempo depende dos pais para sobreviver e no fim da vida a mesma fragilidade toma conta de nós outra vez. O poder que acreditamos possuir quando adultos é, na verdade, mera fantasia, uma grande ilusão.

 

Portanto, por que tanta vaidade? Por que tanta arrogância? Por que tanto egoísmo? Por que tanta ganância? Por que tanta ansiedade? Por que tanta angústia? Por que tanto ódio? Por que tanta ignorância?

 

No Alcorão dos Muçulmanos há um versículo maravilhoso: “... você só alcançará a virtude quando fizer caridade com aquilo que você mais ama ...”

 

Leia: Lc 12, 22 – 32; Mt 6, 25 – 34; Lc 13, 6 – 9

 

Meditando:

 

  • Você já observou as duas pontas da vida?

  • Quem é mais importante: uma criança ou um idoso?

  • Onde você se encaixa nesta contemplação?

  • O que significa o poder para você?

  • Você cuida dos seus filhos? E dos seus pais?

 

 

 

 

 

Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 06/10/2008
Reeditado em 17/10/2008
Código do texto: T1214500
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