Contemplação

 

O Mendigo

 

Altamira, pequena cidade do interior com pouco mais de cinco mil habitantes, tem uma igreja bem no centro. Lugar pequeno, sabe como é, todo mundo toma conta da vida dos outros, mas também a solidariedade costuma ser bem maior e mais eficiente. Costuma ...

 

Lá morava um rapaz muito querido, muito religioso, sempre disposto a ajudar nas atividades comunitárias, promovendo campanhas para ajudar os carentes, os necessitados e os doentes. Nas famosas festas religiosas, ele comandava e organizava tudo. Enfim, uma alma generosa à disposição da comunidade e a quem o padre tinha um carinho especial e atendia com prazer as suas solicitações. O rapaz se chamava Jesus e era de família tradicional do lugar.

 

Um belo dia, Jesus resolveu fazer um teste de solidariedade junto ao pessoal da sua paróquia. Resolveu disfarçar-se de mendigo. Arranjou roupas velhas, rasgadas e sujas. Comprou chapéu usado, óculos escuros e colocou barba e cabeleira postiça. Com uma pequena almofada fez uma barriga grande. Vestiu e foi sentar-se nas escadas da igreja. Irreconhecível!

 

Era domingo, a missa tradicional sempre as 11:00 horas e a maioria comparecia ao ato religioso para ficar livre na parte da tarde. Jesus chegou à igreja por volta das 08:00 horas. A criançada já estava lá no pátio jogando bola. Quando viram o mendigo, estranharam, mas para eles não era nada demais.

 

Aos poucos a cidade ia acordando e o movimento aumentando. As pessoas circulando pela porta da igreja e as reações, com referência ao mendigo, eram as mais diversas. Jesus, ali sentado e disfarçado, jamais imaginou que fosse ouvir as coisas que ele ouviu.

 

Miguel, dono da farmácia, passou pelo mendigo e falou:

- Aqui não é lugar de vagabundo, não. Pode ir saindo fora.

 

D. Marta, uma senhora pobre e que morava próximo, abaixou-se e colocou esmola no chapéu do mendigo.

 

Os rapazes que cantavam no coral da igreja, chegaram perto do mendigo e disseram:

- Se manda daqui cara, ou vamos chamar a polícia para lhe dar um trato legal.

 

D. Eva, diretora da escola pública local, quando viu o mendigo disse:

- Que horror, onde está o prefeito que não vê esse absurdo?

 

Dr. Rangel, médico que fazia questão de comungar todo domingo, falou:

- Não dou dinheiro para vagabundo nenhum, vai trabalhar!

 

Sr. João, dono do mercadinho da cidade e sempre generoso, perguntou ao mendigo:

- Você está com fome? Se quiser comer algo depois da missa conversamos.

 

D. Laura, mulher do prefeito e presidente da pastoral dos pobres, recriminou:

- Sr. João, não faça isso, assim o senhor vai atrair todos os vagabundos para a nossa cidade, não incentive isso.

- Vou já falar com o Padre e vamos expulsar esse mendigo daqui. Era só o que faltava.

 

Cinco minutos para a missa começar, chegou o delegado de polícia. Ele olhou para o mendigo com cara feia, abaixou-se e disse:

- Quando a missa acabar se você ainda estiver na cidade vou dar um corretivo em você ...

 

A missa começou e todos estavam lá. Na hora da homilia o padre falou:

- Onde está Jesus? Ele me pediu para falar umas palavras antes do sermão?

 

Então, o mendigo apareceu diante do padre, e para surpresa de todos foi tirando a barba postiça e a cabeleira, a almofada da barriga, limpou o rosto com um lenço molhado e penteou os cabelos. Então, todos o reconheceram e ficaram assustados.

 

Jesus perguntou:

- O que vocês fazem na casa de Deus? É assim que vocês são cristãos? Muitos irão comungar depois de mostrarem o que verdadeiramente trazem no coração? Querem que eu repita o que cada um disse para “esse mendigo” lá fora ou não precisa?

 

Todos abaixaram a cabeça envergonhados e não disseram nada.

 

Jesus finalizou:

- É assim que vocês agem com amor, justiça e misericórdia? Onde está a inclusão social, o acolhimento, a partilha, o respeito ao próximo? É assim que age a “pastoral dos pobres”? Que vergonha! Que Decepção! Confesso que não esperava isso de vocês. Estou triste, muito triste...

 

Jesus, abaixou a cabeça e retirou-se da igreja. Não houve homilia naquele dia e somente as crianças apareceram para comungar. Os demais não sabiam onde enfiar a cara.

 

Leia: Lc 16, 19 – 31; Jo 9, 1 – 12; Mc 10, 46 52.

 

 

Faça um exame de consciência, leia novamente essa história e veja onde você estaria dentro dela.

 

 

 

Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 03/11/2008
Código do texto: T1263862
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