PRANTO DE MÃE

11.O8.1969

10 MESES E 23 DIAS DA PARTIDA DO MEU AMOR

Há de haver um porto neste mar em que navego tristemente.

Se houvesse outra palavra eu usaria, mas somente sei dizer que estou sozinha.

Sozinha por entre todos os que me rodeiam, só comigo mesma.

Quando as crianças dormem, eu me chego mansamente, tomo uma mãozinha de cada vez, sentada à beira da cama, na penumbra do quarto; ouço sua respiração, observo o seu rosto e falo em sussurros o que me oprime o coração.

O sofrimento de estar só, com uma imensidão de amor dentro de mim; esse amor que distribuo aos poucos a cada um de vocês, filhos da minh’alma, em forma de carinhos suaves, de beijos sinceros, de afagos de minhas mãos pelos seus cabelos, seus rostos; carinhos em palavras de sonhos e fantasias.

Chego-me perto de cada um e peço perdão pelo que me falta em sabedoria, pelas possíveis falhas do meu caráter, que ainda não descobri e pelas falhas que eu tenho certeza de possuir.

Sussurro que não quero vê-los sofrer, que tudo farei para fazê-los aptos a esta amarga vida.

Ah! Quanta coisa falo com as crianças enquanto dormem!

Fico pensando nas características de suas personalidades, seus defeitos e suas virtudes. As palavras de amor que me dizem, quando inquiridos respondem:

-Eu amo a senhora, mamãe.

Só enquanto dormem os meus filhos, eu choro. O lamento inútil que me aperta o coração.

Às vezes vocês falam dormindo, palavras esparsas do cotidiano de suas vidas. Acho que meu pranto os perturba...

Beijo a cada um, aspirando o perfume de cada cabecinha. Arrumo as cobertas já muitas vezes arrumadas. Acaricio suas mãos, suspiro, olho-as novamente e me afasto sem ruídos, encostando a porta de mansinho.

Essa ternura nostálgica que invade toda a minha alma!

Essa angústia de não ser mais forte para vocês, meus filhos; essa tristeza de ser tão sensível e não conseguir controlar os meus impulsos!

Eu só sei orar assim:

Ó Pai de misericórdia, graças Te dou pelos filhos que me deste, por poder falar contigo e tenha misericórdia de mim, miserável pecadora que sou.

Perturbada como vivo, como posso orar de outro modo?

Dentro do meu coração só Tu sabes o que existe.

Não me abandone, por compaixão. Vou enfraquecendo dia a dia, e já não sei como lutar.

Tu sabes, porém, da minha vida. Só Tu, meu Deus, conheces as minhas angústias.

Terei de enfrentar nova vida. Sê comigo, porque amparada em Ti eu saberei lutar.

Abençoa o que invocar Teu Nome. Não permita que haja dispersão.

Em nome de Jesus

Amém.

RACHEL

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Rachel dos Santos Dias
Enviado por Rachel dos Santos Dias em 27/10/2007
Reeditado em 07/11/2007
Código do texto: T712402