O espaço de cada um

Espaço para quê?

Para trabalhar, brincar ou criar?

Espaço onde não se faz nada,

Ou espaço para amar?

Mas o que é o espaço?

Será o espaço aquele cantinho onde realmente fazemos coisas,

que somente sozinhos sabemos (e podemos) fazer?

Ou seria, o espaço, o local:

onde construímos relações e produto (trabalho);

onde partilhamos conhecimentos;

onde compartilhamos nossas tristezas e angústias (divã);

onde repartirmos o mesmo pão;

ou onde podemos brincar e sorrir?

O espaço é público e/ou privado.

O público é o exterior, onde estamos situados.

É a rua, é o parque, é o mercado, é o trânsito, é o shopping.

É o espaço onde devemos respeitar e seguir algumas regras, leis e convenções.

Tipo:

Não avançar sinal, deixar o pedestre passar na faixa,

não jogar lixo no chão, não furar fila no supermercado,

correr no parque, mas não no shopping,

onde, intencionalmente, seu piso é próprio para se andar bem devagarinho,

que é para dar tempo de olharmos as vitrines. Enfim.

Já o espaço privado é o interior onde estamos situados.

O interior de nosso espaço é o corpo.

Porque o homem acontece e existe ‘dentro’ de uma

temporalidade, espacialidade e numa corporeidade.

Se ando, se vou ou se fico, se faço ou se desfaço é porque tenho corpo.

A questão é que nosso corpo enquanto espaço privado transita por espaços públicos,

por lugares, becos e cantos, onde se esbarra e se amarra com outros corpos.

Agora eis a questão:

Agimos da mesma forma, com a mesma espontaneidade em ambos os espaços?

Quem disser que sim estará mentindo.

Porque não se anda pela rua pelado, nem se dorme de gravata.

A verdade é que somos muito diferentes dependendo de onde estamos situados.

Não é que sentimos vergonha de nossa nudez.

A vergonha está no outro que está trajado.

Diferente do espaço público, quando estamos inseridos no espaço privado,

não necessitamos de tantas regras e convenções.

É certo que hábitos saudáveis fazem bem para mantermos o nível de sanidade.

Mas não precisamos ter vergonha de si próprio.

Acho que ninguém tem vergonha de si.

Pois esta surge com o outro quando se transforma no meu espelho.

Estou só, ninguém me vê nua.

Ninguém sabe que ando de pantufas de coelhinhos (agora sabem).

Ninguém me vê conversando sozinha.

Se me vissem no interior de minha solidão me chamariam de louca.

Mas vamos, confessem, não é bom tomar banho com a porta aberta e a luz do banheiro apagada,

ou então cantar na frente do espelho como se fosse um pop star?!

É difícil confessar. Eu sei. Essas coisinhas são mesmo patéticas.

O leve é que sozinha não preciso representar.

Não preciso encenar, muito menos ser fingida.

É leve porque sozinha não carrego o peso da minha máscara...

No meu espaço não preciso usar saltos, nem enfeites, nem perfumes.

Não preciso de regras, muito menos de convenções.

É no espaço privado que somos o que somos.

É o eu consigo mesmo que se revela e se desvela.

Se somos feios, desajeitados e sem postura é assim que somos.

É nesse espaço meu, que me amo, me curto, converso comigo, relaxo e me acho.

É no espaço de cada um que cada um sabe a delícia e a angústia de ser o que é...

Silvia Santana
Enviado por Silvia Santana em 17/07/2008
Código do texto: T1085154
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