O crucificado

O estrondo causado por um passado atípico é eminente quando

percebemos que nossa descendência é cristã.

Regados por álcool ou não, descobrimos que a existência é uma derivada matemática.

A morte, a incompletude do ser, a inquietação, eram fatores predisponentes à depressão quando jovem.

Um rapaz simples, sem grandes planos, sem preconceitos sociais.

A arte me convertera no criminoso na civilidade pueril.

- Onde estás, Deus?

Onde encontrarei as respostas das dúvidas que atormentam o meu sub-consciente? - Perguntava, olhando ao céu.

- Se existires serás tu um medíocre ícone, uma imagem depreciativa da bondade e dos costumes.

Nunca pensei na falta da tua existência, mas, neste momento, esta ausência tornou-se o combustível criativo.

Juro que nunca matei, nunca roubei, nunca fiz algo, conscientemente, para denegrir a imagem de um igual, mas a vida tornou-me anticristo.

Ao não acreditar na boa vontade, no Cristo, tornei-me réfem dos pensamentos pessimistas dos Nitzschens modernos.

Não sou forte para acreditar numa sociedade opressora, não sou forte para viver sem um criador, não sou forte para sobreviver ao caos.

O homem fraco é o homem morto.

A morte não precisa ser sentida, na pele.

Estou morto, como tantos outros, por pensar que o existir é errôneo.

Estou morto por pensar que a vida é um processo natural dos humanos.

O bem e o mal não são fatores predisponentes ao caos, pelo contrário, eles não interferem.

Um homem não nasce com um genótipo de assassino, ladrão, louco.

Ele torna-se isso devido ao seu fenótipo, ao ambiente em que ele vive.

Então, o que posso divagar sobre a pessoa que me tornei?

Pensei, horas, sobre isto, mas só lembrei de certos fatos:

Não tive pai, não tive mãe, não tive amor.

Este pensamento refuta minhas dúvidas sobre a existência de um Deus ou sobre um carma.

Como Deus fica vendo um "filho" apodrecendo numa prisão sem grades?

Como ele pode condendar-me, ao pensar que o suicídio é a única escolha?

Não acredito que seja Carma.

Se fosse, eu, já estaria morto ou preso.

A minha existência é a prova de que Deus não existe e de que não há re-encarnação.

Por que não consigo me matar?

Por que tenho vontade de existir?

Será porque o suicídio é o final da desculpa esfarrapada que sempre proferi( A existência, sendo única, deve ser aproveitada a cada momento)?

- Deus, Demônio, Alá, Moisés, Buda, por que fizestes isso comigo?

Por que tornaste-me um soldado voluntário da inexistência de valores?

Eu não mereço, eu não mereço!

Sozinho, num quarto, com um punhal em mãos, penso em acabar com a vida, tornar o branco da paz, no negro da solidão.

Sem alma, espírito, descansaria minha tão cansada existência.

A moral, ou a falta dela, seria preponderante nesta caminhada ao infinito.

Mas, a esperança vem e torna a macilante face em sorrisos sardônicos.

Vingar-me da vida, tornando-a um inferno dantesco.

Esta será minha última e única reinvidicação!

Então, a vingança seria correta.

Se houver um Deus, ele estaria sentido, aos prantos, chorando por um filho.

Se não houver, a dor, seria a cruz que carregaria para o solo.

Uma cruz e o punhal em mãos.

A fé e a falta dela, andando juntas, numa união carnal.

O pulsar intermitente torna-se um pulso breve.

A escuridão cerca, crucificando aquele que sempre quis a salvação.