DOR

Não, eu não posso mais escrever poesia

enquanto o sangue dos animais e dos homens

é derramado barbaramente pelas mãos "humanas".

Eu não tenho mais flores para colocar aqui.

Eu não tenho mais jardins, nem mais estrelas,

não há mais sol, nem lua, nem nada.

O que ouço, vejo e sinto me dá náusea.

Eu tenho vergonha de ser gente.

Eu não posso voltar os olhos para os céus

e pensar que sou um grão de areia

e que nada posso fazer a não ser aqui

gritar, gritar, e me questionar:

- quem somos nós?

- por que somos assim?

- que mundo é esse?

- no que nos transformamos?

Minha poesia é uma pétala morta.

Eu sou uma rosa morta dentro de um jardim morto

que deixa suas pétalas mortas ao vento,

para que ele somente me faça adubar a terra.

Para que a grama cresça, que alguma florzinha floresça

para que um animalzinho possa ali se nutrir

e nunca ter realmente autoconsciência.

Por que hoje, essa autoconsciência

é nada mais do que vergonha.

Clara Leticia(LC)
Enviado por Clara Leticia(LC) em 16/10/2008
Código do texto: T1232617
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