DOR
Não, eu não posso mais escrever poesia
enquanto o sangue dos animais e dos homens
é derramado barbaramente pelas mãos "humanas".
Eu não tenho mais flores para colocar aqui.
Eu não tenho mais jardins, nem mais estrelas,
não há mais sol, nem lua, nem nada.
O que ouço, vejo e sinto me dá náusea.
Eu tenho vergonha de ser gente.
Eu não posso voltar os olhos para os céus
e pensar que sou um grão de areia
e que nada posso fazer a não ser aqui
gritar, gritar, e me questionar:
- quem somos nós?
- por que somos assim?
- que mundo é esse?
- no que nos transformamos?
Minha poesia é uma pétala morta.
Eu sou uma rosa morta dentro de um jardim morto
que deixa suas pétalas mortas ao vento,
para que ele somente me faça adubar a terra.
Para que a grama cresça, que alguma florzinha floresça
para que um animalzinho possa ali se nutrir
e nunca ter realmente autoconsciência.
Por que hoje, essa autoconsciência
é nada mais do que vergonha.