Hoje tomei toda tristeza que existe

Hoje tomei toda tristeza que existe no mundo em uma colher de chá, amargo e seco. Engoli a dose de veneno na esperança de deixar meus pensamentos e para minha surpresa ainda estava ali, de pé em frente ao espelho quebrado, pedaços de meus sonhos espalhados por todo chão, pisava descalço e me cortava em meus próprios sonhos. Experimentei toda sorte de desilusões em minha vida, vivi a morte, morri a vida, e ainda ali, respirando, contra minha vontade, contra expectativas ou apostas, ali, em pé. Porque eu, porque tantos caíram e se foram, se desligaram, desfaleceram fortalezas e eu ali, firme, em pé, insistente involuntariamente. Minhas memórias felizes escorriam em minhas mãos como se fossem ampulhetas sem fundo e fim, apenas escorriam, a sensação era de não acabar o que deveria chegar ao fim, não tinha fim o sofrimento. Me senti atordoado, ferido, amputado, minha alma não estava comigo, minha liberdade, meu sorriso, tudo errado, tudo conforme todos planejavam, e na verdade pensei, e meus planos, o tal plano B, o que aconteceu, apenas tomei o amargo e senti o gosto desagradável da solidão, vivi o desespero, o desencanto, o pleno negro da esperança , senti o vazio de quem negocia a alma junto as forças paralelas. Trocaria meu corpo por esta alma, faria valor do que não tem para tela novamente, para sentir meu peito que apresenta a morte vivo e latente, sim, viveria em ressurreição para banir o amargo de minhas veias. Toda tristeza do mundo em mim, tenho em meus olhos dissimulados e distantes, mortos, todo mistério da dor, sinto imensa solidão em meu pranto recolhido, se quer posso gritar meus sentimentos, não, não posso. Meus caminhos tortuosos e egoístas me trouxeram até aqui, a absoluta falta do temer, não temo, não aceito, não curvo, não aceito e por fim, existo sem existir, preso em um lugar que não conheço, mas sei que esta ali, em cárcere privado e julgado sem sentença alguma, apenas no aguardo do dia seguinte, apenas respirando, e recusando meus sonhos. Vivo, somente, na verdade, morro, e apenas, não deixo a energia vazar junto a areia de meus sonhos, cacos cravados em minhas esperança. Me sinto um vaso caro e de demasiada importância, largado em uma sala qualquer sem flores, sem aroma, sem brilho, sem alma. Me quebrem, me joguem, desfaçam as amarras, queimem e deixem assim, espalhem minhas cinzas perto de onde minha alma estiver, trancada no branco vazio, em uma camisa de força costurada para sufocar os sonhos, a vida, o amor. Trocaria minha vida por minha alma, morreria em paz, feliz, pleno e completo, sem troca, sem chance, apenas espero acontecer todos os fatos, deixo assim, percorro o espelho novamente em busca de algum pedaço inteiro, que possa lembrar quem sou, o quanto sou forte e resistente a tudo, para dividir minha força com minha alma acorrentada, onde estiver, para que arrebente as amarras e voe para longe de tudo e todos, onde na verdade, já estou a sua espera.