O CONTADOR DO TEMPO

O CONTADOR DO TEMPO

À beira do caminho, um velho, sentado em um tronco de árvore que caíra, observava as pessoas que por ali passavam. Olhar sereno, parecia por vezes fitar as montanhas lá no fundo, no horizonte, e por vezes os passantes no caminho à sua frente.

_ Bom dia meu Velho ! - um passante cumprimenta o solitário homem.

_ Bom dia Irmão ! - responde o velho, ao cumprimento.

O mesmo passante, no dia seguinte, já curioso, pergunta ao ancião o que fazia ali todos os dias, sentado no tronco da árvore caída .

_ Mas o que fazes aqui meu Velho, não estás cansado de diariamente observar o horizonte e as pessoas que passam por este caminho ?.

_ O que eu faço meu Irmão, aqui e em toda parte, é contar o tempo.

_ Mas como contar o tempo - pergunta o homem - e alguém precisa ficar contando o tempo ? - que utilidade na prática teria tal trabalho ?.

_ Outra hora lhe contarei sobre a necessidade de contar o tempo dos homens, hoje você esta com muita pressa pelo visto, e não irei detê-lo mais, pois seu tempo já está curto para chegar ao seu trabalho.

O homem olha assim o relógio e despede-se rápido do ancião com um breve aceno, e apressa-se para o serviço.

No caminho, pensando um pouco, chega a uma conclusão que o velho poderia ser um louco, destes dóceis, que não fazem mal a ninguém.

_Que pena, - diz para si, - será que ele não tem ninguém que o acolha e, fica assim todo o tempo, ali à beira do caminho, somente vendo as pessoas passarem?.

Mesmo achando que o velho seria um doente, alguma coisa lhe chamava a atenção; era a sua fala calma, com uma dicção perfeita das palavras, o que só poderia ser de uma pessoa que tivera estudos, mas que infelizmente no final da vida adoecera.

Este, intrigado com essas questões que lhe viriam à mente, tira um dia para deter-se por mais tempo, a fim de conversar com o ancião.

_Então Meu Velho, como o senhor está hoje, nesta bela manhã de sol - pergunta o homem ao se aproximar do velho naquele mesmo local.

_ Hoje é um dia especial, acabo de iniciar a contagem do tempo de mais alguém neste mundo que começou a respirar, apesar do seu tempo biológico já ter se iniciado há alguns meses.

_ Mas então o senhor quer me dizer que fica aqui à beira do caminho contando o tempo dos indivíduos, desde que eles nascem ?. _ Pergunta o homem ao ancião, simulando entender o alcance das respostas deste. Pois aprendera que com os loucos, não se pode provocar contrariedade, pois podem ter reações inesperadas, às vezes agressivas e, por isso sempre que possível, devemos concordar com eles.

No entanto, apesar de já acreditar na loucura do velho, desejava ver até que ponto iria a sua fantasia de contar o tempo dos indivíduos.

_ Então o senhor conta o tempo dos indivíduos com que finalidade ?. Pois acho que qualquer ocupação deve ter uma finalidade.

_Sim, - responde o velho - tem uma finalidade importante, pois, para todo o indivíduo quando nasce, é disparado o seu contador de tempo, que será a cada segundo deduzido do total do tempo de vida que já lhe fora dado pela natureza. Ou seja, quando os seres nascem, recebem o total do tempo que deverá permanecer aqui, para a sua manifestação e evolução e, o meu trabalho aqui é contar o tempo que se passa na vida de cada indivíduo e subtrair-lhe do que já lhe foi doado, até o instante de zerá-lo. Ou seja, para todos os seres vivos, eu só faço a contagem regressiva. Todos têm um tempo de manifestação e não lhe será dado nem mais um segundo em cada etapa, portanto o seu bom aproveitamento é fundamental.

O homem ao ouvir aquilo, dito pelo velho solitário ali à beira do caminho, começara a ficar mais intrigado, pois apesar de parecer mais uma história louca daquele homem, no fundo tinha uma sensação de que aquilo tinha muito a ver com todos nós, pois de uma certa forma todos morrem um dia, jovens ou velhos. Mas essa estória de contar o tempo para cada um, era ainda uma fantasia do velho, achava ele em sua imaginação.

_ Então meu Velho, se isso é um fato, o senhor também deve estar contando o seu próprio tempo e, a qualquer hora o senhor deverá zerá-lo, não é verdade ?.

Responde o ancião - seria, mas não o é, pois sou atemporal, não tive início e nem terei fim, sou apenas um contador do tempo; bem sou mais alguma coisa, às vezes consigo através a consciência interior de cada um, alertá-lo para a valorização, para um melhor aproveitamento que cada um deve dar a cada segundo que passa da sua breve existência e assim melhorar a compreensão de si mesmo e do Universo em volta.

_ Mas como assim ? - pergunta o homem - este tipo de resposta me parece muito genérica e termina não me dizendo nada. Como posso tirar o melhor proveito de cada segundo da minha existência, já que o tempo que me foi dado é diminuído a cada instante. Agora, enquanto falo com o senhor, já perdi um bocado de tempo, que já foi descontado daquele total que a Natureza me entregara no início.

Responde o velho - calma homem, você me pergunta como otimizar o seu tempo, cada segundo da sua breve existência. Você tem uma consciência que lhe ditará estas regras simples, e você as seguirá.

Mas, se queres algumas dicas, dir-te-ei; não percas este teu precioso tempo alimentando ódio, inveja ou maquinações que possam trazer o sofrimento de outras criaturas; pelo contrário, alimenta o otimismo, o verdadeiro amor, a compaixão, entre outros sentimentos construtivos. Estes sentimentos além de valorizar-lhe o tempo, nutre de felicidade a sua alma. Mas isto que lhe digo, dirá melhor e mais amplamente a sua consciência interior, pois ela é parte da consciência Universal. Por isso, quanto mais você der ouvidos a essa consciência interior, o seu tempo será cada vez mais valorizado, e nunca mais irá perder seu precioso tempo com mesquinharias.

Não necessito dizer-lhe mais nada sobre isso, pois o resto você descobrirá por si só, pois será intuitivo.

Repito; eu sou apenas o contador do tempo.

O passante ouvira aquilo tudo, e agora cada palavra lhe soava cada vez mais clara em sua mente; o que mudara a sua opinião inicial sobre aquele velho que julgara louco.

Mais algum tempo, o homem se despede do ancião e continua o seu caminho em direção ao trabalho, agora julgando o velho como um verdadeiro sábio, pois conseguira alertar-lhe e revelar-lhe fatos que só agora lhe pareciam óbvios.

Assim, pelo caminho, anda mais alguns passos com esses pensamentos e, antes de entrar na primeira curva, olha para trás a fim de ver mais uma vez o ancião ali sentado no tronco da árvore caída; mas como numa mágica, ele já teria desaparecido do lugar, e, nos dias seguintes, jamais seria visto.

Ogar

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Enviado por Ogar em 13/04/2006
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