16 de julho de 1917
A 16 de julho de 1917 padre Pio da Pietrelcina, então, com trinta anos de idade, dizia: "mas como dizer o que sinto? Acredite em mim, que é justamente isso o que constitui o máximo do meu martírio interno. Vivo em uma noite contínua: as trevas são fortíssimas”.
Ao ser interpelado por seu diretor espiritual a respeito da sua condição espiritual padre Pio sente-se impotente para externalizar toda a sua experiência interna, visto estar amplamente penetrado numa “noite contínua”.
No convento, vê-se interpelado pelas situações da vida e para as quais não tem resposta e sente-se, por isso mesmo, completamente incapaz de compreender a fundo o significado de tais interpelações. É um surdo diante das vozes da realidade; vê que ela articula suas falas, mas elas lhe são todas incompreensíveis.
Segue dizendo que o seu “martírio interno” é justamente não poder externalizar todo o movimento existente em seu espírito. Disso resulta que há como que duas realidades latentes na experiência espiritual e mística de padre Pio. Uma diz respeito a sua interioridade a outra, a sua exterioridade. A primeira é extremamente ativa por que noite; a segunda, extremamente passiva por que dia. A “noite” é ativa porque o espírito se debate com ânsias da luz na busca da aurora, do crepúsculo da manhã. O “dia” é passivo porque essa atividade noturna do espírito nunca chega a “tocar” o dia, a agir nele, ou seja, na realidade externa a qual tem acesso assim que abre os olhos todas as manhãs.
A consciência de estar em “trevas fortíssimas” dentro de tal “noite” a tem compreensivamente sob a forma de “martírio interno”. Ser mártir é morrer pela fé. Assim, padre Pio vive uma morte continua dentro de si em vista de sua fé. A fé é aqui entendida como uma estadia no vale da morte, mas que conduz para uma realidade de vida plena, afinal, aquilo que subjaz na intencionalidade da fé de um mártir nunca é o morrer pela fé, mas sim o atingir a vida por meio dela. Desde essa compreensão se exclui qualquer interpretação psicologizante da experiência espiritual de padre Pio a qual poderia ser considerada como uma depressão, visto que há uma “redução” de sua interioridade a um estado de “noite”. Porém, como já ficou dito, tal redução tinha em vista o pleno meio-dia da fé, caso completamente diferente daqueles que são ex-almados por causa da volatilidade e pulverização da vida em que contribuem para isso a midiatização da vida humana tornando-a tão descartável como aquilo que ela apresenta hoje em dia.
“Como dizer o que sinto?” Como falar a outro aquilo que é da pele (sensação)? Somente tendo a “pele” dentro do espírito é que se poderá ter uma vaga noção de tão alta experiência. Isso significa que uma experiência desse porte não cabe numa lógica demonstrativa, mas si numa lógica efusiva.