O portal das lembranças...



     Encontro-me sentado à minha escrivaninha, exatamente de frente para janela do meu estúdio, local este que direciona meus olhos para o norte.
     Por alguns minutos, talvez horas, viajo em lembranças que rebuscam em minha mente a eternidade, sinto minh'alma totalmente anestesiada pela emoção.
     Deixei-me levar pela brisa mansa e sutil das lembranças de outrora. Esta, mesma fazia com que conseqüentemente, o bailar das árvores e arbustos com uma forma poética e encantadora, bem como se voltasse a minha terna infância. 
     Revivi as belas tardes de outono, as quais ao  sentar-me à mesma janela para aguardar o anoitecer, era agraciado com o canto dos pássaros silvestres, os quais recreavam entre árvores frutíferas que molduravam meu inocente olhar. 
     O cantar das aves, agraciavam meus ouvidos como uma sinfonia regida pela  mãe natureza. 
     Folhas verdejantes bailando ao vai e vem mágico dos deuses que perpetuam a sabedoria da natureza.    
     Uma graciosa homenagem a mãe administradora de tão rara criação. 
      Ao fundo o por do sol, a noroeste por se tratar do outono, tornava nuvens acinzentadas e entremeadas ao branco neve, um sombreado alaranjado caudado pelo reflexo do astro rei já meio distante do planeta e saudoso por ser sabedor da chegada do triste inverno, porém tão necessário,  ao fundo o imenso azul celeste trazia aos meus olhos a imagem clara de uma tela de "Monet".
       Esta visão enlevou-me ao êxtase do contentamento interior. Como se fosse à abertura de uma janela para imortalidade.
       Ah! Quantas saudades... Fez-me sentir, apertar o peito e revirar à mente de tanto contentamento. 
      Um momento ímpar e totalmente mágico lembrou-me da infância que a muito me abandonou, uma verdadeira delícia, um beijo de emoção em minha vida. 
      Senti o cheiro doce do ar como se estivesse à beira do fogão de lenha observando o zelo dos quitutes artesanais que cuidadosamente minha avó produzia com um amor sem precedentes para a ceia ao anoitecer. 
     Senti também o cheiro das frutas, entre elas às mangas maduras, caídas ao chão bicadas pelos pássaros em busca de alimentação. Revi os coqueiros que acercavam minha casa, mangueiras, goiabeiras, cajueiros, cajazeiras, caquizeiros, parreiras entre outras.
       Hoje, vivo dos sonhos do passado já bastante longínquo. 
Ao retornar a realidade, deparo com blocos frios de concreto que representam o conceito abstrato de viver.
O ópio do desenvolvimento entorpece as almas de forma tal, que levam a não mais cultuar o templo sagrado da natureza.
O ser humano tornou-se insensível, egoísta e predador da sua própria essência e origem.
       Encontrei-me com minh'alma, posso vislumbrar em meus pensamentos registros reais que harmonizam de forma integral à minha amada mãe natureza. Esta embora doente, ainda sim, acalenta seus filhos insanos que incessantemente ultilizando-á, destruindo-á há cada segundo da sua precária existência.
       Mas... Mesmo assim segue heroicamente sobrevivendo aos desacatos à sua magnitude.
      
Espero não tornar-me órfão  antecipadamente!   







                                  
Bruxo das Letras
Enviado por Bruxo das Letras em 31/05/2009
Reeditado em 06/01/2010
Código do texto: T1624628
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