EU E MUITOS ANIMAIS


Quando eu era menininha, minha mãe contava que eu não podia ver um bicho. Ia logo pegando sem medo, como se fosse meu. Só tinha medo e tenho pânico hoje em dia, de barata.
Morávamos num apartamento na Tijuca, e eu sempre pedindo um cachorrinho e um gatinho. Chorava muito porque me davam de pelúcia e eles ficavam do jeito que eu botava. Normalmente eu acabava com eles dando banho na banheira, ensaboava, esfregava, fazia tudo para eles acabarem e eu pedir bichinho de verdade. Morando num edificio cheio de regras, nunca minha mãe poderia me dar bicho nenhum.
Um dia fui á feira com uma vizinha e convenci que minha mãe deixaria eu levar um pintinho, que na época chamei de patinho. Fiquei tão feliz com o "patinho na mão" que ela comprou os ovos e aceitou o patinho, não adiantava dizer que era um pintinho, para mim era um patinho.Quando minha mãe me viu com o pintinho, coitadinha....ficou desolada. Não podia dizer nada, a vizinha estava contente por ter me dado de presente e eu cheia de sorrisos com meu patinho. O patinho começou a crescer, ficava preso na área de serviço e dependências de empregada porque fazia sujeira em qualquer lugar. Minha mãe era uma santa, tadinha. O patinho começou a piar, piava alto e foi o suficiente para meu pai ser chamado pelo síndico. Bem de tudo isso teriam que dar um fim no meu patinho que já estava parecendo um galinho. Num domingo saímos para passear, eu minha mãe, irmã e duas amigas com a mãe delas... Foi ótimo, nos divertimos, mas quando voltei fui correndo ver meu pato...havia sumido. Abri a boca num choro alto e tão malcriado que meu pai já estava perdendo a paciência. Até eu entender que não podia ter um galinho no apartamento foi muito choro. Quando me acalmei, fui perfinho de minha mãe e falei com ela que se não podia ter o galinho porque fazia barulho, ela poderia me dar um carneirinho. Claro que levei uma boa bronca para parar com a história de bichos e se chorasse ficaria de castigo. Sempre gostei de animais. Quando no sitio Fênix, que minha mãe e minha irmã reformaram tudo, gramaram, nós plantamos varios tipos de frutas, e eu , já bem grande, na idade, porque no tamanho, esqueci de crescer, queria um carneirinho e um cabritinho.....Mas não deu para realizar meu sonho infantil. As pastoras que foram para lá bem pequeninas e o pequenino de uma pastora alemã é enorme....Eram duas feras adestradas  que tomavam conta do sítio e nenhuma pessoa ou animal que entrasse alí, estaria bem. Elas apareciam não sei da onde e atacavam, principalmente se fosse à noite, quando estávamos dentro de casa. Mas com as pessoas da casa, eram uns amores de mansas. Lá tinha interfone, se subisse alguém na moita para roubar frutas, ou qualquer outra coisa...elas botavam para correr pro resto da vida. Chegaram a vir para cá, eu fiquei com a Luma e minha irmã com a Cigana. As duas tiveram que ser sacrificadas por doenças degenerativas, um terror.
Hoje estava vendo um filme à tarde e lembrei das histórias que  minha mãe contava de nossoas peripécias de criança. No filme, um casalzinho corria no prado com os cachorros ajudando os pais a por os carneiros no curral. Os filhotes eram lindos e lembrei de meu desejo, como se eles nunca crescessem.
Em crianças já temos sonhos que não poderemos realizar e teremos que nos conformar e entender, e isso vai nos acompanhar na juventude e na vida adulta. Muito do que desejamos fica apenas no sonho, na vontade, pois é impossivel e embora a gente compreenda , não deixa de ser uma grande decepção na vida.
Mas é assim, mesmo que o sonho seja um simples patinho ou um carneirinho, fica dificil de ter, é complicado. Mas fico me imaginando quando menina, deitada na grama com a cabeça sobre o carneirinho. Deve ser bem agradável.
Sonhos infantis ou adultos que naõ realizamos sempre deixam uma frustração, uma tristeza porque pra criança é importante, ela não sabe dos impecilhos, e o adulto já tem outros sonhos, que ao se tornarem impossíveis,  e se são de muita importância para nos, tornamo-nos pessoas tristes, depressivas, infelizes. Sem luz no final do túnel. Sonhos infantis ou adultos , todos, deveriam ser possíveis.
naja
Enviado por naja em 10/08/2009
Reeditado em 03/01/2011
Código do texto: T1747039