MIMETISMO
Quando me lembro das marcas que cravaram minha vida
e serviram como base na construção da minha identidade,
fico a perambular constantemente no tempo...
Busco absorver meu passado e visualizar no meu presente
o período mais intenso, cada segundo, cada instante,
cada recordação, cada sim, porquês, e não...
À medida que o tempo passa revivo ocasiões específicas
da minha vida. No mundo onde o tempo passa cada vez
mais rápido, momentos únicos estão cada vez mais escassos,
fazendo com que o passado esteja sempre presente,
que o desejo de voltar a ser feliz sem as intempéries do dia a dia
aflorem a cada angústia, a cada inquietação e decepção.
A vida parece injusta, por mais que a viva intensamente
sempre fica a sensação de senti-la escapar por entre os dias terminados,
ficando apenas a saudade: do primeiro amor, a primeira queda de bicicleta,
a primeira flor deixada na mesa da professora.
Das brincadeiras que pareciam não ter fim,
da amizade com inicio e sem fim,
das loucuras pelas ruas da cidade,
da magia, da mentira e da verdade.
Quero viver a minha vida,
segui-la sem ficar preso ao passado, impregnado.
Tenho que aprender a viver o meu tempo,
o hoje, mesmo que pareça que foi ontem.
Mas o tempo, jogado ao vento,
se espalha sem saber que direção seguir,
onde vai formar a próxima duna,
onde vai repousar e esperar a próxima corrente de ar,
onde o novo é inconstante
e o futuro se constrói diferente de antes, a cada instante.