Reflexão sobre as escolhas

Diz-se que tudo na vida é feito de escolhas. Há, nessa afirmação, um tanto de pressão. Por cada escolha apontada, a sensação de determinismo e de irremediabilidade. Chamo novamente a sabedoria popular para me auxiliar nessa questão tão delicada. “ Só não há remédio para a morte.”

Não farei a ingenuidade de acreditar ser tudo re-feito, re-construído exatamente, mas, digo, sim, que é possível reverter quadros. Ah claro, tendo plena consciência e responsabilidade pelas consequências. Veja bem, somos livres, se nos reconhecemos como pessoas livres. Você me diria, então, e todas as proibições e regras que nos são postuladas desde sempre? Isso é parte do mundo exterior. Quando falo de liberdade, estou falando sobre a nossa capacidade única de nos construirmos e reconstruismo infinitamente sem, necessariamente, perder a essência do que nos é próprio: o nosso estar no mundo.

Vejo então, que, de certa forma, até mesmo o “não escolher’’ é uma escolha. Falo da escolha como algo que geralmente nos é mostrado de forma dicotômica e/ou limitada, como se só existissem, de fato, opções extremamente limitadas. No entanto, ser no mundo não é algo limitado, e sim, algo múltiplo. Nós, seres humanos, somos infinitamente fragmentados em nossa unidade essencial. Afinal, viver é fragmentar-se, ou melhor, ter a capacidade de imprimir a existência em cada um dos fragmentos.

Pensar nas escolhas como possibilidades ou alternativas obrigatoriamente fechadas é negar a nós o direito de exercer a liberdade de ser. Até mesmo nas coisas mas banais. Darei um exemplo aparentemente infantil, mas que ilustrará o que pretendo dizer. Se leh oferecem chocolate branco ou preto, você poderia aceitar um dos dois ou simplesmente não aceitar nenhum. Caso isso ocorra de novo, alguém oferecer um chocolate, você, obrigatoriamente, deve repetir a mesma escolha? Acredito que não, como também acredito que ninguém estranhará caso isso ocorra. Por que é tão mais difícil considerar os fatos dessa forma nos demais casos? Logicamente, não estou reduzindo a vivência a coisas banais. Existe uma série de outros fatores que complexificam a vida, mas seria capaz de considerar que tentamos, a maior parte do tempo, reduzir a vida a sistemas mais fechados justamente pela existência ser algo naturalmente complexo com a qual temos dificuldade em lidar. Paradoxal reduzirmos a existência a sistemas fechados e nos sentirmos à vontade em optarmos sobre chocolates.

Creio que o fundalmental nas escolhas ou não-escolhas seja o fato de elas viem imbuídas de verdade. Não espara-se que seja possível sempre considerarem nossas verdades, mas, antes de tudo, devemos expor a verdade para nós mesmo. Sendo assim, a absorvemos como parte indissociável de nós mesmos.

Ursel Schwartzinger
Enviado por Ursel Schwartzinger em 14/09/2009
Reeditado em 14/09/2009
Código do texto: T1810608
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