OUTUBRO DE 2009

A lente do amor descolou a retina e trouxe a realidade

para a paixão.

Agora, nela, vê-se poros abertos, veias desconcertantes

e verdes ao lado das narinas, que expiram

o cansaço enfisêmico dos pulmões quer já inflaram de

êxtase e susto,

espera e dor.

Como é engraçada a miopia dos amantes histéricos.

Mas os olhos podem descansar do criativo,

as lentes revelam o cabelo,

e abaixo do cabelo, o couro. Que por vezes

escama e fere e coça e dá vontade de escalpelar.

Como é engraçada a verdade que ninguém quer ouvir.

E aqueles, antes cegos, quase idiotas, reconhecem

primeiro a sombra, depois os relevos,

em fim as cores e as texturas.

E as lentes preenchem a transparência, entupindo-a

de estômago, pâncreas, fígados e intestinos;

não dando mais para ver-se – vê- se outra.

Então há o horror, e por fim, que é começo, o amor.

Como é engraçada a vida, posto que é só isso.

Luiz Almeida
Enviado por Luiz Almeida em 01/10/2009
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