MEAS (Movimento Estudantil do Alto Sertão): Dois Meses de Ocupação

Lá se vão dois meses de uma esperança que insiste em não cessar, de uma esperança que não encontra obstáculos que a mantenha limitada. Todavia, esta não é apenas uma luta travada em prol de ganhos de cunho Material. Não. Trata-se da morte ideológica de muitos dos que participam desta resistência, pois cremos intensamente por toda a nossa vida estudantil, na existência da luta entre classes, e sabemos que mesmo que tentem disfarçar em discursos de igualdade, ela acontece e só não percebe quem não reflete sua própria realidade, e tenta absorver realidades alheias na tentativa frustrada de fugir à sua.

Foi deste conflito de classes que nasceu no ABC paulista no início da década de 80 o PT (Partido dos Trabalhadores). Ele que surgiu exatamente dos conflitos entre capitalistas e explorados pelo capitalismo. Agora insiste em agir como um típico partido de direita, fechado aos interesses dos grandes opressores que povoam a história da humanidade, em governos que beneficiam apenas uma pequena minoria privilegiada. Dirão que este é um discurso marxista e obsoleto, mas desde quando a busca por uma emancipação humana está fora de moda? Creio que perdemos algumas referências e isso de certa forma nos enfraqueceu, mas não deveria prejudicar nosso espírito. Quando rompemos com o carlismo no governo da Bahia tínhamos certeza de que não seria fácil consertar tudo, mas restava a convicção de que uma das principais bases democráticas seria respeitada: o dialogo.

Acreditávamos que tendo o governo federal ao nosso lado as coisas aconteceriam de forma mais tranquila. Triste engano. O governo da Bahia realiza concurso público para a policia militar e não para professores, por que acredita que “bater” é mais fácil que educar. Que o povo tem que apoiar o governo pelo medo e não pela consciência, que democracia é: “sim senhor” e não questionamentos, que a busca por explicação é incitação a desordem e tudo isso gerado por aquela anterior falta de dialogo. É crime brigar por uma educação de qualidade? Se for prendam-me e condenem-me a prisão perpétua. Por que eu prefiro viver recluso a ter que acreditar que a educação perdeu o sentido na construção do ser humano.

No dia 16 de maio de 2009 completamos dois meses de ocupação da UNEB nos campus VI (Caetité), XII (Guanambi) e XVII (Bom Jesus da Lapa). Resistimos! Resistimos ancorados naqueles que assim como eu acreditam que não basta passar pela universidade e sair com um canudo embaixo do braço, é preciso refletir e acima de tudo viver aquele espaço. Não basta adentrar o mercado de trabalho e realizar o que todos os outros já fizeram antes, temos que extrapolar os nosso limites, e isso só acontecerá quando tivermos o suporte que só a educação de qualidade nos oferece.

O MEAS não é unanimidade, e provavelmente não existiria se fosse. Pode não contar com a maioria por que historicamente estão ocupados demais com seus problemas particulares para se preocuparem com o coletivo. Porém conta com um grupo que apesar de reduzido está consciente de seu papel na sociedade, e eu pessoalmente acredito que um homem consciente e politizado vale mais que uma massa alienada. Por isso eu convido a todos que reflitam sua realidade, pensem no que acham que não está certo e o que pode ser feito para mudar, por que podemos não mudar o mundo, mas mudaremos nossas vidas.