Vida Abstrata

Ele corria pelas vielas dos seus próprios medos

Ainda era cedo quando já era tarde demais

Parou diante daquela porta entreaberta

Sentiu o frenesi, sentiu a chance de mudar tudo

Ainda tresvariado amargou silente culpa

Podia dar um fim a toda essa dor fulgurante

Ainda fazia suas interpenetradas preces

Mas seus deuses surdos ostentavam irrealidade

Preso ao tempo-espaço converteu-se em “pobre alma”

Tentava diariamente basear seu fracasso em tudo mais

No fim das contas era ainda um meninote, vagando desesperado

Longe de casa, longe do abraço maternal

Essa existência travessa, tão difícil de entender

Era seu cobertor nesse universo translúcido

Desertificou o vale encantado de seu coração

Matou, uma a uma, as flores do jardim de sua alma