Dolorido
E porque me corrói esse maldito desejo
essa impossibilidade
essa distância
gozo a dor e meu êxtase vem vertido
escorre nas pernas
escorre no rosto
E porque eu não posso tê-lo
e porque eu o amo
eu odeio quem sou
odeio quem ele é
e gozo a maldita flama nessa letra
que não condiz com nada
que não diz nada
e que sangra minhas pernas
sangra minha alma
sangra com um sangue poluente
que desanda rios
afronta mares
e lava meus olhos de sal
E porque eu digo adeus agora
e não entendo porque escrevo
meu corpo tomba a frêmitos
e lanha-se a si mesmo
e rompe em mim tudo o que não deveria
o medo, o terror e a solidão
Tremo com os sóis de agosto
e chovo as chuvas do estio
e ainda calo
e grito
e calo
e escorre de mim a última angústia
o último desejo
o derrame
e gozo em lágrimas
a falta de amor