Chuang-tsé, um velho sábio chines

Seres

Simplesmente

Estão.

Nada a ser feito

Nem progresso econômico

Nem formas melhores

De se fazer as coisas

Mas apenas

A magnífica postura

Ao se fazer

O que deve ser feito

Uma árvore ereta

Recebe a luz do sol

Não precisa sequer

Sair de casa

Um corpo animal

Deixa-se estar

Sonolento

O interior de um peixe

Não é molhado pelo mar

Mas os animais aéreos

Devem ter cada uma

Das suas bilhões de células

Atingidas pelo ar

Se queres construir

Para a eternidade

Lembra do aqui e do agora

Pois essa é a única

Eternidade de que

Dispomos

A luz permeia

Todo o universo

Se reflete nos corpos

E vem aos nossos olhos

Não há significado

Nessa reflexão

Desde que não exista

Intenção

Os preconceitos são

Criados pela memória

E esta se forma

Do desejo.

O desejo advém

De necessidades

A serem satisfeitas.

Justas ou injustas

Queremos o frio

Quando há calor

O calor quando há frio

Uma barriga cheia

Escravos para fazer

As coisas chatas

Coisas que demandam

Força física

Desconforto

Repetição monótona

De rotinas.

Coisas que não emocionam

Todos gostamos de ser servidos

Ninguém gosta da servidão

Da obrigação, da responsabilidade

Que é o contrário do desejo.

É um não-desejo

Logo, um desejo também.

Ao ser humano

Exige-se

Um árduo treinamento

Para que possa andar

Na corda bamba

Durante alguns anos.

Todos são vilipendiados

Sacrificam-se, se queixam

E temos que agüentar

Sorrindo

A choradeira.